06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

humanitário ou anjo da guarda, esteve visitando o nosso refúgio. Como ele era casado<br />

com uma brasileira e falava muito bem português, decidimos, então, colocá-lo a par do<br />

nosso sofrimento pela separação da nossa filha de apenas um ano e meio. E, assim, deuse<br />

o milagre. Ele ficou chocado, solidário conosco e decidiu ajudar-nos.<br />

A<strong>que</strong>le dia foi mágico e reacendeu, em nossos corações, a esperança de ter a nossa<br />

pe<strong>que</strong>na Beloquita de novo conosco. E assim aconteceu. O cidadão humanitário foi a<br />

Recife contatar meu pai, Raimundo, <strong>que</strong> ficou temeroso, pois temia pela vida da netinha<br />

<strong>que</strong> ele tanto amava. Mas esse anjo da guarda insistiu e nos telefonou para consolidar os<br />

planos. Eu falei com meu pai, disse-lhe <strong>que</strong> ele podia confiar na<strong>que</strong>le cidadão e <strong>que</strong> seria<br />

o melhor para nossa pe<strong>que</strong>na Izabela ficar junto dos seus verdadeiros pais, apesar de<br />

todo o amor <strong>que</strong> recebia dos familiares em Recife, sem dúvidas os melhores pais<br />

substitutos <strong>que</strong> ela poderia ter tido. Assim, a Izabela foi levada até o Rio de Janeiro por<br />

minha madrasta Kilza, a vovó Nena, <strong>que</strong> muito a amava. Do Rio, Izabela viajou com um<br />

representante da Cruz Vermelha para o Chile onde eu, tendo recebido permissão do<br />

governo Chileno, a esperava, com a guarda das Nações Unidas, no aeroporto em Santiago.<br />

A<strong>que</strong>la angústia tanto tempo represada explodiu num facho de luz e alegria <strong>que</strong> até hoje<br />

ilumina nossa vida com Bela!<br />

Daí em diante, a nossa pe<strong>que</strong>na Bela, Pedro e eu, começávamos uma nova vida juntos,<br />

ainda no refúgio, com muitas incertezas, mas, então, fortalecidos com a reunião da<br />

família e com o amor da nossa pe<strong>que</strong>na filhinha. No começo, foi muito dura sua<br />

adaptação. Izabela estava assustada e só <strong>que</strong>ria ficar ao meu lado. Mas, aos poucos, com<br />

o carinho dispensado por mim e pelo pai, a nossa Izabela foi-se adaptando à vida no<br />

refúgio, integrando-se às atividades e fazendo amizade com as outras crianças, filhas dos<br />

outros exilados políticos <strong>que</strong> tinham dado tanto apoio a nós.<br />

Finalmente, em 12 de Janeiro de 1974, por intermédio de articulações humanitárias e<br />

políticas e com apoio efetivo de nosso grande amigo e protetor Padre Lourenço Roy,<br />

canadense <strong>que</strong> vivia no Chile, fomos aceitos pelo governo do Canadá junto com mais<br />

outros duzentos refugiados entre uruguaios, chilenos, brasileiros.<br />

Viajamos num avião da Força Aérea Canadense. Saímos do Chile e voamos para mais uma<br />

nova vida, agora enfrentando frio intenso, nova cultura, outro idioma, mas tendo a<br />

certeza de ter pautado nossas vidas no caminho certo, dando nossa pe<strong>que</strong>na contribuição<br />

para a construção de um mundo mais justo para todos. Ao Canadá e aos canadenses <strong>que</strong><br />

nos receberam com todo apoio emocional e financeiro, declaro para sempre a minha<br />

maior gratidão.<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - CHile 589

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!