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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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República, governadores de Estados e prefeitos das capitais, definitivamente canceladas.<br />

A universidade, reduzida a um clima de terror nunca visto, destroçada em suas experiências<br />

mais ricas, com centenas de seus professores expulsos do país e seus alunos<br />

implacavelmente perseguidos pelo Decreto 477, <strong>que</strong> os impedia de continuar os estudos<br />

por um tempo mínimo de três anos. Em um contexto assim, era natural <strong>que</strong>, ao entrar na<br />

Faculdade de Filosofia de Pernambuco (FAFIPE), para cursar Ciências Sociais, eu fosse<br />

impelida a lutar contra as atrocidades da época. Os exemplos familiares, além de Chico<br />

de Assis, anteriormente citado, Antonio Avertano, um outro primo, e de Paulo Cavalcanti,<br />

primo da minha mãe, já engajados na luta contra o regime ditatorial e sistematicamente<br />

perseguidos, inspiravam-me em uma opção mais voltada para militância política.<br />

Por conta dessa atividade, passei a ser acossada em Pernambuco, desde 19<strong>68</strong>, quando fui<br />

presa pela primeira vez, em um apartamento <strong>que</strong> utilizávamos como local de encontro,<br />

<strong>que</strong> pertencia a uma companheira e foi denunciado pelos vizinhos. Já em 1969, fui presa<br />

outra vez, distribuindo panfletos <strong>que</strong> pregavam voto nulo, prisão <strong>que</strong> me valeria, alguns<br />

meses depois, uma condenação a seis meses de detenção. Por determinação do Partido<br />

Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR)), no qual eu começara a militar na época,<br />

fugi para Fortaleza, onde me integrei aos esforços de construção da<strong>que</strong>le partido na<br />

área. Depois de alguns meses, por divergências políticas naturais e muito fre<strong>que</strong>ntes<br />

na<strong>que</strong>le período, saí do PCBR e aderi ao Partido Comunista do Brasil (PC do B).<br />

O Chile, <strong>que</strong> vivia um momento de efervescência política e plena liberdade democrática<br />

com o governo de Allende, nos recebeu de braços abertos, como exilados políticos.<br />

Nutríamos, nessa ocasião, a esperança de termos, com a máxima brevidade, nossa filhinha<br />

conosco outra vez. Infelizmente, em 11 de Setembro de 1973, o mundo acordou com a<br />

triste notícia de um dos golpes mais sangrentos da história do Chile e da América Latina,<br />

tendo à frente o ditador Augusto Pinochet.<br />

Nesse contexto golpista, nós, brasileiras e brasileiros, não podíamos nem pensar em<br />

recorrer à nossa embaixada. Morávamos, então, com nossos <strong>que</strong>ridos companheiros<br />

cearenses, Ruth e João de Paula e passamos a viver, ao lado deles, dias de angústia,<br />

pânico e incertezas sobre o <strong>que</strong> iria acontecer conosco da<strong>que</strong>le momento em diante.<br />

Soubemos, mais tarde, da notícia de <strong>que</strong> as Nações Unidas e a Cruz Vermelha Internacional,<br />

juntamente com a Igreja Católica, estavam abrindo refúgios, onde ficaríamos em<br />

condições de “semiprisão”, porém, seguras, por<strong>que</strong> garantidas por tutela internacional.<br />

Ao lado de dezenas de outros, exilados políticos brasileiros e de outros países, fomos<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - CHile 587

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