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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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Depois da Semana Santa de 1973, chegamos ao Chile, como exilados políticos, eu e Pedro<br />

Albu<strong>que</strong>r<strong>que</strong>, então, meu marido. Deixávamos para trás, no Brasil, nosso país, familiares,<br />

amigos, prisões, perseguições e muito sofrimento. Meu primo, quase irmão, Chico de<br />

Assis, com <strong>que</strong>m convivera toda a minha infância e adolescência, além de Mário<br />

Albu<strong>que</strong>r<strong>que</strong>, irmão do Pedro, presos e condenados a viver seus melhores anos de vida na<br />

prisão.<br />

Nada, contudo, nos deixava mais tristes <strong>que</strong> a separação da nossa primeira filha, Izabela,<br />

<strong>que</strong> acabara de completar um ano de idade. Gerada entre as tensões da luta políticorevolucionária,<br />

<strong>que</strong> então desenvolvíamos, eu e Pedro, egressos os dois de dramáticas<br />

experiências nesse campo.<br />

Izabela nasceu em Fortaleza, Ceará, no dia 1º de março de 1972. Na ocasião, Pedro estava<br />

preso, sofrendo o odiento processo de torturas a <strong>que</strong> eram submetidos todos os <strong>que</strong><br />

caíam na rede repressiva, criminosamente instalada pelo golpe militar de 1964. Somente<br />

depois de nove meses de nascida, Izabela pôde estar com seu pai e Pedro pôde viver a<br />

emoção de acariciá-la em seus braços. Aconteceu esse encontro na casa de uma tia do<br />

Pedro, a tia Nelina, <strong>que</strong> cito aqui como homenagem a todos a<strong>que</strong>les <strong>que</strong>, anonimamente,<br />

nos emprestavam seu apoio e solidariedade, arriscando, às vezes, suas próprias vidas para<br />

<strong>que</strong> pudéssemos continuar vivos, na<strong>que</strong>les duros tempos de repressão e desmandos.<br />

O nome Izabela fora escolhido por causa da semelhança circunstancial com a história<br />

vivida pelo líder das Ligas Camponesas de Pernambuco, o então deputado Francisco<br />

Julião, <strong>que</strong> estava preso, por ocasião do nascimento de sua filha, Izabela. Julião havia<br />

convivido politicamente com Pedro antes do golpe de 64. Dessa convivência, nasceu uma<br />

admiração e apreço recíprocos <strong>que</strong> nos motivou - ao ler o livro <strong>que</strong> o deputado escrevera<br />

na prisão, Até Quarta, Izabela, onde narrava as emoções <strong>que</strong> experimentava, todas as<br />

quartas-feiras, quando a pe<strong>que</strong>na Izabela ia com a mãe visitá-lo - a dar o mesmo nome<br />

à nossa filha, nascida alguns anos depois, em circunstâncias semelhantes. Por contraste,<br />

a nossa Izabela não teve o direito de visitar seu pai, também na prisão, quando do seu<br />

nascimento.<br />

Minha história política não difere muito da de milhares de jovens brasileiros, perplexos<br />

com a brutal investida sobre as instituições democráticas do país, então perpetrada pelo<br />

golpe militar. O Congresso Nacional, submetia-se à violência das cassações <strong>que</strong> lhe<br />

levaram de roldão os quadros mais destemidos e às ameaças de fechamento, realizadas<br />

ou não, ao bel-prazer da vontade do ditador de plantão. As eleições para Presidente da<br />

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