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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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pela tradução do faroeste Guerra a las Armas. Sobrancelhas ar<strong>que</strong>adas do milico.<br />

Explico. Depois de mais algumas tentativas de descobrir perigosos indícios de ação contra<br />

a pátria chilena, vira-se para um soldadinho ao lado:<br />

- Soldado! A las cinco de la mañana!<br />

- Sí señor!<br />

O gesto ríspido me manda sair da sua frente. Mesmo diante de um fascista meio burro e<br />

inexperiente, na condição de prisioneira, tive vontade de rir por dentro. Fi<strong>que</strong>i séria.<br />

Dormi bem como em todas as outras noites, apesar de sermos pelo menos três em cada<br />

colchonete. Comendo uma cazuela de água suja, com raras estrelinhas de aipo boiando,<br />

uma vez ao dia. Uma água leitosa escurecida e um pão duro de manhã. Sobrevivi ao<br />

horário anunciado para o meu fuzilamento. Durante o dia, levam-nos para a arquibancada<br />

tomar sol.<br />

Estranho, assistir no filme Missing, Jack Lemmon, numa cena impossível, mas de<br />

indiscutível efeito dramático, de um pai, mesmo <strong>que</strong> norte-americano, procurando o<br />

filho entre milhares de espectadores de um jogo de futebol inexistente.<br />

Marion está muito angustiada. O marido, Wanio, passa mal, muito mal. Se não me<br />

engano era um dos militares <strong>que</strong> fugiu com Lamarca do quartel de São Paulo, levando<br />

um caminhão de armas e munição. Morreu algum tempo depois, por falta de atendimento<br />

médico adequado, de obstrução intestinal. O conterrâneo Otto, médico, diagnosticou a<br />

doença do companheiro, sem nada poder fazer. Tentamos nos comunicar com os homens<br />

por meio da linguagem de sinais, como se fez no Presídio de Linhares, em Minas. Passei<br />

um dia todo treinando.<br />

Não consegui dissuadir o soldadinho <strong>que</strong> veio me dizer <strong>que</strong> não podia. Mas filei o maço<br />

inteiro de cigarro dele. Foi milimetricamente distribuído, a maior parte para os homens,<br />

<strong>que</strong> passavam muito mais necessidade <strong>que</strong> a gente.<br />

Um dia, armamos um espetáculo no vestiário. Somos de 14 nacionalidades diferentes.<br />

Cada uma tem <strong>que</strong> cantar e dançar algo típico do seu país. Houve soldadinho dando<br />

pulos no pasillo para assistir através das grades lá do alto. As brasileiras ganham<br />

disparado. Mais difícil foi o ban<strong>que</strong>te imaginário, quando nos colocam sob uma escada<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - CHile 575

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