06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

eu, portava documentos falsos. O Edson tinha sido muito torturado e estava todo<br />

machucado. Como estávamos com outros nomes, disseram-nos <strong>que</strong> “seríamos mandados<br />

de volta ao Brasil”. Na realidade, não seria o Luiz Carlos ou o Edson <strong>que</strong> desapareceriam<br />

e, sim, outras pessoas. Passamos muito terror. Na manhã seguinte, houve a troca da<br />

guarda. Os novos guardas desconheciam o motivo de estarmos isolados na<strong>que</strong>le setor.<br />

- Os estrangeiros devem ser levados para o setor tal - comunicou a voz no alto-falante.<br />

Quando ouvimos esta ordem, insistimos com a guarda <strong>que</strong> deveríamos ser conduzidos<br />

para lá. A maioria da<strong>que</strong>les guardas era constituída por jovens <strong>que</strong> recém tinham iniciado<br />

o serviço militar. Explicamos <strong>que</strong> éramos estrangeiros e <strong>que</strong> eles poderiam ser punidos<br />

pelos superiores se não obedecessem às determinações da autoridade. Por fim,<br />

convenceram-se e nos levaram ao tal setor, para junto dos nossos companheiros, onde<br />

estávamos anteriormente.<br />

A seguir, chegou ao Estádio Nacional uma equipe da Cruz Vermelha Internacional, do<br />

Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, do Conselho Mundial das Igrejas,<br />

etc. Relatei a ameaça de extradição ao Monsieur Lehnan, ligado a esses órgãos e ele fez<br />

a denúncia à ONU. Caso contrário, não estaria vivo agora...<br />

Depois de 45 dias nessa existência aterrorizante, repleta de “últimas olhadas” em<br />

companheiros <strong>que</strong>, depois, desapareciam durante a noite, os últimos presos estrangeiros<br />

no estádio, cerca de duzentos, foram conduzidos a um refúgio sob proteção da bandeira<br />

suíça. Dali, fomos transportados a diferentes países <strong>que</strong> nos deram asilo político. No meu<br />

caso e dos meus companheiros <strong>que</strong> moravam comigo, o destino foi a Suécia, assim como<br />

o foi para muitos outros.<br />

Quando estávamos saindo do estádio e atravessávamos a massa de trabalhadores <strong>que</strong><br />

permaneceria no cárcere, pudemos distinguir um grito de um companheiro chileno <strong>que</strong><br />

tinha dividido cela conosco e estava sentado na arquibancada:<br />

- Uma coisa é clara, companheiros! A luta não terminou. Eles venceram a primeira etapa,<br />

mas o povo chileno ainda não deu sua última palavra!<br />

Quero acrescentar <strong>que</strong>, anos mais tarde, em 1980, no Brasil, meu pai foi chamado ao<br />

DOPS para <strong>que</strong> recebesse documentos. Lá, entregaram a ele a tal carteira de identidade<br />

e a de jornalista <strong>que</strong> eu tinha enfiado em um vaso sanitário do Estádio Nacional.<br />

572

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!