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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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Assim permanecemos por muitas horas, no chão de um dos muitos pátios laterais, <strong>que</strong><br />

funcionavam como celas para os prisioneiros <strong>que</strong> seriam interrogados pelo Servicio de<br />

Inteligencia Militar (SIM). Embora o SIM fosse provisório, eles, certamente, não eram<br />

amadores.<br />

Em um canto da<strong>que</strong>le amplo espaço, havia uma porta <strong>que</strong> dava para as salas de<br />

interrogatório usadas pelo SIM. Em um clima de tensão e com nó na garganta,<br />

testemunhávamos como os prisioneiros interrogados saíam da<strong>que</strong>las jaulas. Pessoas <strong>que</strong><br />

víamos entrar em perfeitas condições físicas, voltavam, após algumas horas de gritos e<br />

sons surdos de pancadas, com o rosto completamente deformado e coberto de manchas<br />

roxas. Alguns vinham apoiados nos braços de companheiros ou carregados em macas,<br />

tão mal o estado em <strong>que</strong> se encontravam.<br />

Nas arquibancadas <strong>que</strong> rodeavam o campo, comprimiam-se milhares de trabalhadores,<br />

<strong>que</strong> já tinham, quase todos, passado pelas salas de interrogatório. Alguns, já cheios de<br />

desespero, não aguentavam mais e rompiam em choro histérico ou começavam a gritar:<br />

- Abaixo a ditadura fascista! Morte aos assassinos de nosso presidente!<br />

- Viva a liberdade!<br />

A reação vinha sob a forma de tiros e rajadas disparadas pelos soldados, <strong>que</strong> mantinham<br />

suas metralhadoras, todo o tempo, apontadas para a<strong>que</strong>la massa de gente. Foram muitos<br />

os <strong>que</strong> caíram ali, na presença de todos. Os soldados atiravam às cegas. As balas atingiam<br />

onde atingissem. O importante era manter o domínio sobre a massa. Vi um soldado com<br />

uma metralhadora ponto 30, com tripé. De vez em quando, ele dava uma rajada contra<br />

a massa e caía uma fileira...<br />

No setor em <strong>que</strong> estávamos, aconteceram sessões de tortura diante de nossas vistas,<br />

como por exemplo, com dois argentinos. Os cabelos deles foram arrancados a sangue frio<br />

por carabineiros. Eles enrolavam tufos de cabelo nos canos de seus fuzis e os arrancavam<br />

com um único puxão. As vítimas encolhiam-se e rolavam no chão de dor. Na noite<br />

seguinte, os dois foram levados para os porões do estádio e nunca mais foram vistos.<br />

Uma chilena, de cerca de vinte anos, foi também levada e fuzilada, nessa mesma noite,<br />

acusada de ter tentado atirar em alguns oficiais. Fatos assim repetiram-se por mais um<br />

dia e uma noite ainda.<br />

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