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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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afastar-se. Tudo isso fazia parte de um amadurecimento, do enri<strong>que</strong>cimento de uma<br />

expressão política, de uma formação melhor como ser humano.<br />

Fincha dilataria mais adiante a<strong>que</strong>le conceito. Havia companheiros espontâneos, sinceros,<br />

cheios de calor humano. Havia outros <strong>que</strong> alguma coisa os empurrava para a frialdade,<br />

talvez para o cálculo. Ela dizia suspeitar <strong>que</strong> estes últimos eram a matéria prima do<br />

golpismo, do maquiavelismo, do burocratismo na luta pelo socialismo. Eu não conseguia<br />

acompanhar-lhe as conclusões:<br />

- Será <strong>que</strong> é isso mesmo? - dizia eu.<br />

- Talvez se trate apenas de avanço da racionalidade e não necessariamente um processo<br />

de piora... Ou seja, ao se tornar mais racional, mais capaz de cálculo, pode piorar ou não...<br />

Ela não podia concordar comigo. Formulava – cada vez com mais clareza – uma teoria<br />

de <strong>que</strong> a boa razão brotava aos borbotões, desde a análise emotiva e não podia ser<br />

separada dela. Eu lhe dizia da “razão afetiva” de Rousseau, e brincava com ela <strong>que</strong> seria<br />

agora partidária de Rousseau e não de Lênine. Manifestando pelos companheiros mais<br />

frios uma irritação crescente, ela preferia ver o acerto em sua teoria, onde razão, frieza,<br />

cálculo e maquiavelismo se completavam como graus de uma formação sucessiva...<br />

Por ora, Guafo afastava as soluções pré-fabricadas <strong>que</strong> pudessem decorrer de um suposto<br />

comportamento revolucionário e insistia no caráter absolutamente político das soluções<br />

<strong>que</strong> seriam obtidas na luta futura, como mero resultado da correlação de forças em<br />

presença:<br />

- Insisto, companheiro, não há nem poderia haver comportamento-padrão a aplicar.<br />

Tudo vai depender de cada conjuntura, de cada solução política e do grau de compreensão<br />

com <strong>que</strong> as massas venham a encarar cada problema...<br />

A chuva rosnava mais uma vez. Caía sem pressa, como <strong>que</strong> dispusesse da noite para<br />

sempre, já não voltariam os dias. Pinche afastara-se, sozinho, para a margem do riacho,<br />

cujas águas apressadas cantavam conhecida canção. Sem <strong>que</strong>rer, dera eu com ele ali, a<br />

masturbar-se inutilmente, ignorando a<strong>que</strong>la friagem. Felizmente, não me viu e pude irme<br />

sorrateiro, um tanto envergonhado. Era-me desagradável pensar no <strong>que</strong> fazia<br />

na<strong>que</strong>las condições, onde devia, cria eu, mostrar superação e ausência de vícios. Talvez<br />

ele estivesse certo e eu não, razão por<strong>que</strong> ele se mostraria assim tão terreno. Os sons da<br />

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