06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

de savana, onde agora predominava a família de bromeliáceas. Diferentes tipos de<br />

bromélias e de girassóis, alguns até azuis, iriam aparecendo no caminho para a Argentina.<br />

Ratões de banhado, ali denominados pelos locais de vizcachas, abundavam cada vez<br />

mais. Nos lagos, coscorobas brancos e avermelhados comiam, pescando aos milhares,<br />

com evidente indiferença para as causas sociais do mundo. Das dezenas de cumes <strong>que</strong><br />

aqui e ali se elevavam desciam gargantas, ora assustadoras, vazias e desgrenhadas, ora<br />

quase acolhedoras, parecendo pomares ou jardins trabalhados pela mão do homem. O<br />

frio das noites derretia-se à luz do sol. Os rios e riachos, praticamente, congelados ou<br />

apresentando uma fria cobertura de gelo, agora – à luz – escorriam gargalhantes corrente<br />

abaixo, como águas em festa. Raposinhas de todas as espécies, gambás e quatis diversos,<br />

corriam para todas as partes e habitavam em todas as árvores. Por ali desfilava, estranha<br />

e sem sentido, cada tosca esperança humana.<br />

Chegou-se e saiu-se por Riñihue. Dois veículos, com dez pessoas ambos, uma vez por dia.<br />

Três dias para chegar e três dias para partir. Eram, nas circunstâncias, de grande discrição.<br />

Tanto em Riñihue quanto em Rucachoroi, o fluxo foi controlado. Seria perigoso manifestar<br />

ali um estado de euforia. Buscou-se atuar, discretamente, na<strong>que</strong>les cenários, onde se<br />

ficava estacionado. Os responsáveis pelo curso consideraram esta experiência um sucesso.<br />

No entanto, não houve condições para <strong>que</strong> isso se repetisse. As condições políticas no<br />

Chile se deterioravam rapidamente. O Chile constituía, na<strong>que</strong>la circunstância, uma<br />

exceção na América do Sul. Era evidente <strong>que</strong> o golpe seria dado e uma ditadura militar<br />

instalada. As provocações e a violência em breve impediriam as experiências didáticas<br />

como esta ida à montanha.<br />

Como parte do treino da organização do terreno, a montagem e desmontagem das<br />

tendas obedecia, rigidamente, ao regramento. Os tetos das barracas ficaram sempre<br />

amarrados às árvores e seu entorno era camuflado com ramos e galhos de apoio. Antes<br />

de retomar a marcha, a cada manhã, o material “sobrante” era devidamente “desaparecido”<br />

no terreno. As barracas eram de seis pedaços de lona e havia alguma lona extra para<br />

organizar os <strong>que</strong>bra-ventos. Isso era indispensável na<strong>que</strong>la friagem congelante da noite.<br />

Ali, caso se dispusesse de seis mil calorias por dia, ainda se sentiria frio. O <strong>que</strong> havia de<br />

mais duro era certamente este contato com a natureza. Depois de três ou quatro dias, o<br />

frio penetrava no es<strong>que</strong>leto e o corpo do montanhista começava a mudar. Tornava-se<br />

mais lento e menos flexível. Os conhecedores do ambiente alegavam <strong>que</strong> se tratava da<br />

perda, muito rápida, da gordura do corpo. Havia também grande preocupação com a<br />

utilização correta dos equipamentos. Tudo era distribuído de modo a não produzir ruído<br />

algum durante os deslocamentos. Cada qual era responsável por uma parcela de ordem,<br />

556

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!