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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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existência era, pois, temporária. O terreno foi organizado de maneira exemplar, sendo<br />

eliminados, ao deixar cada ponto, quais<strong>que</strong>r vestígios da passagem do grupo.<br />

O ar parecia absolutamente cristalino. A impressão era a de um cartão postal, uma pureza<br />

absoluta, de <strong>que</strong> não houvesse uma única partícula de poeira no ar. O vulcão nos fitava<br />

majestoso, com seu cume eterno, e nos brindava com a sua indiferença. Na<strong>que</strong>le cenário<br />

esplêndido, eram apenas formiguinhas, <strong>que</strong>rendo, de algum modo, dar-se ares de<br />

importância. Caminhar pelas matas do sul do Chile sempre despertava essa impressão de<br />

pe<strong>que</strong>nez. Semelhante estado de humilhação ante o poder da natureza não permitia<br />

perder-se o espanto. Quantas vezes ali se voltasse, quantas vezes lhe assaltava a sensação<br />

de perda, de vazio e a incompreensão do <strong>que</strong> é imenso. O céu parecia exibir a sua<br />

curvatura. Respirar a<strong>que</strong>le olor tão novo era inebriante.<br />

Talvez fosse ali <strong>que</strong> as forças naturais se encontrassem para produzir o oxigênio perfeito.<br />

O suor corria frio pelo rosto e o esforço – alimentado pela limpidez do ar – pedia por<br />

mais e mais caminhar. A<strong>que</strong>la estranha excitação era por certo uma forma de embriaguez<br />

capaz de levar ao perigo um caminhante inexperiente. Era como se a natureza o atraísse<br />

e o dominasse. A parafonia do vento embaraçava o bom senso, o cansaço não pedia<br />

descanso, mas excitava. Os conhecedores advertiam <strong>que</strong> o ar não era melhor como<br />

parecia, mas pior.<br />

Olhando-se para frente ou para trás, era possível quase sempre divisar uma ou outra de<br />

nossas esquadras, a cem ou duzentos metros. Cruzava-se aqui e ali com viajantes, alguns<br />

conduzindo cavalos ou burros. Como se esperava, a pe<strong>que</strong>nez do grupo não causava<br />

espécie. A ninguém ocorreria por certo estar observando grupos distintos a meia distância<br />

<strong>que</strong> fossem parte do mesmo direcionamento. Tampouco isso lhes interessaria. A inspeção<br />

visual quase sempre buscava avaliar um potencial de perigo. Eliminada esta suspeição<br />

básica, cumprimentos superficiais eram trocados a certa distância, às vezes, algumas<br />

informações ou perguntas. E nada mais. Todos tinham, por certo, suas razões para lá<br />

estarem. O sureño não é um amante das inquirições e das autoridades. Os homens <strong>que</strong><br />

descem à selva ou <strong>que</strong> sobem as montanhas, em geral, amam menos às autoridades, às<br />

regras impostas e aos governos. Isso era uma verdade, apreciando caírem as águas da<br />

Huilohuilo ou ladeando as águas do lago Panguipulli.<br />

À medida <strong>que</strong> se caminhava para o nordeste, ia o terreno se elevando. As mesetas do<br />

altiplano visível degrau oferecido pelo Andes, tornavam-se cada vez mais íngremes. A<br />

vegetação também ia-se tornando menos espessa, menos floresta, e indicava algum tipo<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - CHile 555

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