06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

- Mas o <strong>que</strong> fazem a<strong>que</strong>les malandros? Desperdiçam energia...<br />

Durante o curso, havia sido feita uma apresentação de cada qual e de sua experiência<br />

político-revolucionária. Furri fora uma entre alguns <strong>que</strong> nada declararam de sua<br />

experiência de prisão. Outros companheiros, no debate, perguntaram a estes, <strong>que</strong> haviam<br />

silenciado sobre a cadeia, <strong>que</strong> experiências haviam vivido. Haviam sofrido torturas,<br />

humilhações? Furri, quando interrogada, limitou-se a comentar:<br />

- Não tenho nada para <strong>que</strong>ixar-me...<br />

Era um modo pitoresco de referir-se à<strong>que</strong>la situação. Antes do curso, ocorria um “ponto”<br />

entre a minha organização e a<strong>que</strong>la organização uruguaia, a <strong>que</strong> ela pertencia. Após<br />

alguns contatos, deu-se <strong>que</strong> nos ficamos conhecendo, ao acaso, quando cada qual<br />

compareceu ao “ponto” para trocar informações. Sentamo-nos em um banco de jardim,<br />

num bairro aprazível e central, para conversarmos. De repente, percebemos <strong>que</strong> alguém<br />

nos vigiava de certa distância, detrás de uma árvore. Brincamos de <strong>que</strong>m seria a “cauda”.<br />

“Cauda” era o nome então corrente para alguém <strong>que</strong> seguia atrás de si, um policial<br />

encarregado de segui-lo.<br />

- Esta cauda é sua?<br />

- Minha é <strong>que</strong> não é. Certamente será sua...<br />

Combinamos caminhar para uma seção mais escura do bos<strong>que</strong>zinho e ali caçarmos nosso<br />

caçador. Lucia, <strong>que</strong> mais tarde seria Furri, perguntou-me se eu estava armado. Tive <strong>que</strong><br />

confessar <strong>que</strong> estava armado com uma ridícula variante de Astra, de fabricação argentina<br />

e calibre 22. Ela trazia uma Walther PPK 9mm e, por isso, arrogou-se o direito de sumir<br />

no bos<strong>que</strong> e tentar colher nossa “cauda” desde trás.<br />

A manobra não deu resultado, por<strong>que</strong> a cauda escapou. Lucia sorriu-me cínica, com seus<br />

olhos quase verde azeitona...<br />

- Vocês brasileiros... nem um argentino usa uma arma dessas...<br />

Dei de ombros e ela se foi. No próximo encontro, veio com uma saia curta. Ao sentarmos,<br />

deixou-me, à vista, seus poderosos joelhos. Abriu a sacola e passou-me uma toalha,<br />

dobrada em quadrilátero:<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - CHile 551

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!