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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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Todas essas coisas eram sabidas por quantos se dessem ao trabalho de pensar ou de<br />

discutir, sem colocar em primeiro plano o lado mesquinho de seus interesses. Era – como<br />

dizia Garcia Mar<strong>que</strong>z – uma crônica anunciada. A ideia então seria reforçar com algumas<br />

teses a capacidade de resistência de uns poucos companheiros presentes no curso. E<br />

esperar pelo milagre da multiplicação dos pães. Que parcelas consideráveis de militantes<br />

da Unidade Popular despertassem e deixassem de esperar por “soluções vindas de cima”.<br />

A<strong>que</strong>les companheiros precisavam se preparar para outras formas de luta. Em breve, os<br />

comícios e o voto não seriam mais tolerados.<br />

O massacre dos trabalhadores resulta quase sempre de um colapso anterior do poder<br />

burguês. A burguesia, por alguma razão, não consegue mais governar. No caso da <strong>que</strong>da<br />

de Napoleão III, na França (1871), a causa foi externa: a Prússia de Bismarck vencera a<br />

guerra. Na Alemanha do Kaiser (1918), teve-se outra causa externa, a Alemanha perdera<br />

a guerra. Na Rússia (1917), a causa era externa, pois a Rússia perdera a guerra para a<br />

Alemanha, a Áustria-Hungria e Bulgária. No caso chileno, contudo, a causa era interna.<br />

Certamente devido ao subdesenvolvimento, a economia chilena parara de funcionar. O<br />

desemprego urbano atingira 25% da população ativa. Os capitalistas chilenos tiraram<br />

dali o <strong>que</strong> podiam, colocando seus capitais na Austrália, África do Sul e nos EUA. O povo<br />

estava afundado na mais insolente miséria, comendo cebola com pão, mas a oligarquia<br />

não <strong>que</strong>ria largar o osso. A eleição de Allende tornara a crise econômica e social também<br />

uma crise política. Havia uma oportunidade de sair adiante. Certamente, não seria através<br />

de preservar a oligarquia no Parlamento.<br />

O <strong>que</strong> se estava fazendo na<strong>que</strong>las condições da América Latina, ao tentar impedir o<br />

imperialismo norte-americano e seus associados de impor ditaduras empobrecedoras a<br />

todo o continente, era “lutar atrás das linhas inimigas”. Não havia dentro das classes<br />

dominantes qual<strong>que</strong>r setor <strong>que</strong> apoiasse ou simpatizasse com as causas populares ou<br />

operárias. O “povo” na América Latina é o <strong>que</strong> existe de mais pobre e oprimido. Composto<br />

pelas camadas mais heterogêneas, seja etnicamente seja economicamente, o povo foi e<br />

continua sendo deserdado por todos os poderes. A situação operária não é exatamente a<br />

mesma. Com o operariado, aparecem parcelas organizadas, inclusive elementos da<br />

dominação, <strong>que</strong> buscam explorá-lo social e politicamente.<br />

O projeto das es<strong>que</strong>rdas latino-americanas era, à época, um projeto operário, mas era<br />

também um projeto popular. Não havia – como em certos lugares da Europa – a exclusão<br />

do povo, com uma suposta ou efetiva defesa do operariado. A ofensiva dos próamericanos,<br />

estabelecendo ditaduras preventivas no continente, convenceu uma parte<br />

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