06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Para a massa da população, não havia diferenças entre o governo Allende e a possibilidade<br />

de uma saída revolucionária para a crise. Ao contrário, no entendimento dos trabalhadores<br />

chilenos e das pessoas pobres em geral, o governo Allende “era” a saída revolucionária, a<br />

oportunidade de transformação em suas vidas. Portanto, o golpe de estado não destruiria<br />

apenas um governo reformista, ou pe<strong>que</strong>nos grupos de organizações revolucionárias.<br />

Um golpe reacionário destruiria – para suas estruturas mentais – a hipótese de uma<br />

revolução possível, de uma verdadeira mudança. Certamente, o impacto de semelhante<br />

derrota seria devastador nas impressões mentais da maioria dos trabalhadores do<br />

continente. O governo dos EUA sabia disso e era por isso <strong>que</strong>, depois de haver sido<br />

derrotado pelos revolucionários cubanos, fazia do governo chileno um enorme cavalo de<br />

batalha. O governo Allende se elegera pelo voto e, por causa das convicções da<strong>que</strong>les <strong>que</strong><br />

o formavam, podia ser removido pelo voto. Ao ignorar a natureza democráticorepresentativa<br />

da<strong>que</strong>le governo, o Pentágono e a oligarquia local fingiam ter um inimigo.<br />

Ao exagerar a dimensão revolucionária do caso chileno, fabricavam um objetivo para sua<br />

estratégia de ação direta na América Latina. Destruindo a alternativa reformista no Chile,<br />

destruiriam de tabela todas as potencialidades revolucionárias na América Latina. Após<br />

isso, bastaria uma “caçada ao homem”, sob a cobertura de algumas “operações Condor”<br />

e de algumas “dinas”, para sacramentar seus verdadeiros desígnios.<br />

Por isso, tinham a oligarquia e os agentes norte-americanos tanta pressa em derrubar o<br />

governo chileno. Sua bancarrota econômica não podia esperar as eleições. Militares<br />

oportunistas observavam o “modelo chileno” e podiam, dali, tirar “suas próprias<br />

conclusões”. Era preciso, pois, apressar-se. Todo o talento provocador para tal retomava<br />

desde a experiência do golpe contra Mossadegh, no Irã, até os então recentes massacres<br />

na Guatemala. O Chile havia-se transformado em um campo de provas e as ruas<br />

cheiravam a pólvora e a vitríolo.<br />

A estratégia do inimigo consistia em dois aspectos: (a) através da infiltração nas<br />

organizações guerrilheiras, apossar-se dos seus sistemas de informação e de comunicação,<br />

para induzi-las ao erro; (b) por meio da pressão contra todos os governos ainda<br />

democráticos, e/ou por via do golpe de Estado, “criar as condições persecutórias” capazes<br />

de paralisar a resistência popular, caldo de <strong>que</strong> se nutriam e onde se formavam as ainda<br />

incipientes organizações revolucionárias latino-americanas.<br />

Obtido o isolamento do grupo guerrilheiro, pelo recuo do movimento de massas, a<br />

atitude seguinte dos governos repressivos era identificar e eliminar fisicamente os<br />

elementos de índole revolucionária. Dessa forma, o potencial guerrilheiro das nascentes<br />

544

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!