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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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23.1 na soMbra da CordilHeira<br />

23 - Chile<br />

Jean Marc von der Weid<br />

“Olha os Andes, minha gente!” Gritou Marcão, e todos nós nos inclinamos nas janelas do<br />

avião <strong>que</strong> nos levava para a liberdade, no Chile socialista de Allende. Era uma noite clara,<br />

de lua quase cheia, e o céu estava limpo de nuvens, permitindo-nos ver a Cordilheira em<br />

todo seu esplendor.<br />

Estávamos algemados dois a dois e o terceiro banco, no corredor, era ocupado por<br />

agentes da Polícia Federal <strong>que</strong> nos escoltavam. Apesar da possibilidade de <strong>que</strong> uma<br />

contra-ordem ao piloto nos levasse de volta para o inferno das várias prisões e centros<br />

de tortura da ditadura, de onde tínhamos sido tirados para cumprir as exigências dos<br />

se<strong>que</strong>stradores do embaixador suíço, ela diminuía à medida <strong>que</strong> nos aproximávamos de<br />

Santiago.<br />

Era madrugada quando aterrissamos. Uns duzentos brasucas exilados nos aguardavam,<br />

eufóricos com a vitória da guerrilha contra o regime. Desembarcamos cantando A<br />

Internacional, muito embora a maioria só soubesse a frase final:... “<strong>que</strong> se alcen los<br />

pueblos com valor, por la internacional”. Já começamos também cometendo gafes, pois<br />

fazíamos com os dedos o V da vitória, o <strong>que</strong> parecia o número dois da campanha do<br />

candidato direitista <strong>que</strong> enfrentara Allende, Jorge Alessandri. Fazia frio, embora fosse<br />

verão, mas estávamos tão exultantes <strong>que</strong> nem nos dávamos conta.<br />

Os agentes da polícia federal foram proibidos de desembarcar e se despediram dizendo a<br />

cada um de nós: “Não voltem nunca mais. Da próxima vez, metemos uma bala na cabeça”.<br />

Houve <strong>que</strong>m respondesse: “na minha ou na sua?” Entretanto, a maioria passou sem dar<br />

atenção à<strong>que</strong>les energúmenos <strong>que</strong> estávamos deixando para trás. Não há como descrever<br />

a sensação de euforia e exaltação <strong>que</strong> nos tomava ao descermos as escadas do avião e<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - CHile 537

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