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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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o MR-8 e nos pegaram. O <strong>que</strong> fariam de nossas companheiras, <strong>que</strong> não compartilhavam<br />

nossa militância? Para onde nos levariam para iniciar a tortura?<br />

Algum tempo depois, fomos liberados pelos militares, <strong>que</strong> devolveram a chave do carro<br />

e autorizaram nossa partida. Começamos a desconfiar de <strong>que</strong> tudo havia sido revistado.<br />

A primeira coisa <strong>que</strong> percebemos foi o sumiço de vários rolos de filmes fotográficos, <strong>que</strong><br />

guardávamos no porta-luvas, ainda virgens. A desconfiança nos acompanhou a viagem<br />

toda. Será <strong>que</strong> iriam pegar-nos mais à frente, para evitar um incidente na fronteira?<br />

Praticamente, só paramos para nos alimentar e botar gasolina e nos revezamos ao<br />

volante. Passaram o Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Chegando à<br />

fronteira com o Rio, veio outra paranóia. Será <strong>que</strong>, por razões táticas, resolveram nos<br />

prender no Rio, já <strong>que</strong> éramos todos cariocas? Chegamos incólumes. O tempo foi<br />

passando e a desconfiança também.<br />

Uns sete anos depois, quando eu militava clandestinamente no PCB e era candidato a<br />

Presidente do Sindicato dos Bancários do RJ, chego ao trabalho no Banco do Brasil e um<br />

colega me entrega um envelope apócrifo, deixado por um homem de terno. Quando abri,<br />

eram as fotos da<strong>que</strong>la viagem, sem os negativos. Só podia ser um recado da repressão:<br />

“fomos nós; continuamos de olho!” A única dúvida era a razão de nos terem parado. Teria<br />

sido a ligação com o MR-8 no Chile ou o encontro fortuito com Jango no Uruguai, já <strong>que</strong><br />

em ambos os países o SNI seguia brasileiros?<br />

O tempo passou mais um pouco até <strong>que</strong>, em 1982, fui preso, com cerca de 80 camaradas,<br />

quando a Polícia Federal desmontou um Congresso clandestino do PCB, em São Paulo. A<br />

invasão do local se deu de forma espalhafatosa, com dezenas de jovens agentes armados,<br />

tensos, gritando, mandando-nos botar as mãos para o alto. Na sede da Polícia Federal,<br />

dividiram-nos em pe<strong>que</strong>nos grupos. No meu grupo, lembro-me do Armando Ziller, do<br />

Lourenço e do Takao Amano, <strong>que</strong> tinha fama de grande atirador e lutador de artes<br />

marciais, o único <strong>que</strong> ficou algemado.<br />

O responsável pelo meu interrogatório era o delegado Veronezi, <strong>que</strong> mais tarde veio a ser<br />

diretor da Polícia Federal em SP. Depois das costumeiras preleções ameaçadoras, o<br />

delegado, com minha ficha na mão, finalmente, faz a primeira pergunta:<br />

- Quer dizer <strong>que</strong> você era homem de ligação com o João Goulart no Uruguai?<br />

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