06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

motivação política e a autoria da ALN, começou a referir-se à quadrilha do Japonês. Cara<br />

de índio pode ser confundido com cara de japonês, por isso o erro da manchete<br />

sensacionalista. O verdadeiro japonês estava sentado no carro conosco. Era o Gota<br />

Serena, um cabra da moléstia de olho puxado.<br />

Uma coisa, porém, era certa: com a prisão do Faca Grande, tínhamos de deixar<br />

imediatamente o país. Minha família nem sabia <strong>que</strong> eu estava no Brasil. Dois meses<br />

antes, eu já havia me despedido de todos e tomado, com minha companheira, o rumo do<br />

Uruguai. Lá, nos hospedamos em um casarão pertencente à gente do Partido Comunista<br />

Uruguaio. Estava sendo reunido nessa casa um coletivo de pessoas <strong>que</strong> pretendiam, uns,<br />

estudar em países socialistas e, outros, obter formação militar na URSS ou em Cuba. Tudo<br />

arquitetado pelo Alemão com seus contatos no Partido Comunista Brasileiro. Entretanto,<br />

voltamos, quase <strong>que</strong> em seguida, para dar continuidade a trabalhos interrompidos na<br />

pátria mãe. Agora, com a <strong>que</strong>da do MAR, só nos restava recuar para além das fronteiras<br />

e retomar o projeto educacional, colocar as barbas de molho e nos preparar para<br />

momento oportuno posterior.<br />

Voltamos, pois, a Montevidéu. Reencontrei minha mulher. Estava frio. Muito frio. Embora<br />

tenha morado, mais tarde, na Suécia, nunca senti tanto frio quanto no Uruguai. Culpa,<br />

por um lado, do meu despreparo em termos de vestuário e da ausência de calefação nas<br />

edificações montevideanas e, por outro lado, do vento gélido <strong>que</strong> soprava à beira-mar.<br />

Lembro-me de um banho de chuveiro <strong>que</strong> tomamos juntos, quando cheguei, corpos<br />

comprimidos sob o jato parco de água <strong>que</strong>nte, único espaço com temperatura suportável<br />

em todo a<strong>que</strong>le frígido ambiente de asseio.<br />

Do casarão usávamos somente o segundo andar, um espaço amplo, com cozinha,<br />

banheiro e vários quartos. Eu e minha mulher fomos aquinhoados com um quartinho em<br />

uma água-furtada, um lance de escada acima. Aí, havia uma cama estreita, o <strong>que</strong> não<br />

incomodava pois, com o frio <strong>que</strong> fazia, só conseguíamos dormir muito apertados um<br />

contra o outro. Um aparelho elétrico de calefação circulava entre os quartos, ora com<br />

uns, ora com outros, repartindo, com justiça, a única fonte noturna de calor.<br />

Depois fi<strong>que</strong>i sabendo <strong>que</strong> dormira na<strong>que</strong>le quartinho e na<strong>que</strong>la cama o próprio Che<br />

Guevara, ao passar por Montevidéu a caminho da Bolívia.<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - UrUGUai 529

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!