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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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caçula, tinha onze anos. Eles estranharam as escolas francesas, rígidas, mas aprenderam<br />

francês rapidinho e até corrigiam a pronúncia do pai. Nos fins de semana, a gente ia a<br />

igrejas, museus e exposições.<br />

O Zé Maria começou a trabalhar na Livraria Portuguesa, fundada por Mário Soares, o<br />

ex-presidente de Portugal, <strong>que</strong> na época estava exilado em Paris. Depois passou a<br />

procurar sócios para uma livraria <strong>que</strong> divulgasse a cultura latino-americana na Europa.<br />

Foi um sucesso. A Livraria Centro dos Países de Língua Espanhola e Portuguesa ficava na<br />

Rue des Ecoles, no bairro Quartier Latin, e era considerada uma das melhores livrarias<br />

estrangeiras de Paris. Isto numa cidade cheia de livrarias. Eu trabalhava na administração<br />

e o Zé Maria dizia <strong>que</strong> eu era a “loura do caixa”.<br />

Passavam pela livraria muitos brasileiros, exilados ou não. Gente como Fernando Gabeira,<br />

Ziraldo, Henfil, Brizola e muitos outros. Nosso apartamento em Massy, no sudoeste de<br />

Paris, era um ponto de encontro e uma Torre de Babel. Tínhamos amigos franceses,<br />

chilenos, portugueses. A feijoada lá de casa era famosa. Um dia, escutando um disco do<br />

carnaval brasileiro, me dei conta de <strong>que</strong> não conhecia nenhuma das músicas. Percebi,<br />

então, <strong>que</strong> eu estava há muito tempo fora do Brasil.<br />

Nossos amigos já falavam em voltar por causa da abertura política. Eu e Zé Maria não<br />

sabíamos se era a hora ou não, nossos filhos tinham criado raízes na França. Também<br />

ficávamos preocupados em perder os direitos sociais <strong>que</strong> se têm na França. Tenho uma<br />

foto em <strong>que</strong> estou com a cabeça encostada no ombro do Zé Maria. É uma imagem bonita<br />

e muito importante para mim. Nesse dia estávamos confusos sem saber o <strong>que</strong> fazer.<br />

Pouco depois decidimos voltar, com os três filhos mais novos. Os outros preferiram ficar<br />

em Paris. Eles tinham amigos, Patrícia estava terminando o curso de Letras na Sorbonne.<br />

Álvaro acabou se casando com uma francesa, Pedro com uma colombiana e Mônica com<br />

um exilado brasileiro.<br />

Estamos em Belo Horizonte desde 1979. O tempo passa rápido. Tenho onze netos lindos,<br />

<strong>que</strong> são a minha alegria. Meus três filhos mais velhos agora moram em BH. Dudu trabalha<br />

com cinema e Didi, o <strong>que</strong> passou pela tortura, é artista plástico. Ele não ficou com<br />

se<strong>que</strong>las mas, é claro, nunca es<strong>que</strong>ceu. Hélio trabalha com turismo. Mônica mora em<br />

Florianópolis, tem um empório de vinhos. Patrícia e os dois mais novos vivem no Rio. Ela<br />

trabalha com meio ambiente, Fernando é fotógrafo, e Ricardo, o caçula, de 41 anos, edita<br />

um jornal alternativo, o Bafafá.<br />

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