06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

diFerença Cultural<br />

Eliete Ferrer<br />

Quando cruzamos a fronteira e entramos na Argentina, senti a<strong>que</strong>le alívio indescritível<br />

de <strong>que</strong> fôramos salvos do maior perigo. Finalmente, estávamos salvos, pois ali, por<br />

desconhecer a Operação Condor, acreditávamos <strong>que</strong> ninguém iria perseguir-nos.<br />

Se bem <strong>que</strong> o Luiz Carlos preferia ficar em casa. Quando saíamos juntos, ficávamos ali<br />

pelas redondezas. Passeávamos na Praça do Congresso. Uma vez fomos ao Jardim<br />

Zoológico. Acostumados com a quase ausência de formalidade da vida carioca, achamos<br />

as pessoas mais sérias, formais, a começar pela maneira como se vestiam. Era inverno e,<br />

talvez por causa do frio, todo mundo parecia muito elegante.<br />

Íamos na padaria comprar medias lunas (pão doce em forma de meia lua) ou pão<br />

comum. Certa vez oferecemos deliciosos pães doces ao José Carlos, o dono da casa onde<br />

morávamos. Ele comeu e comentou <strong>que</strong> estavam esquisitos. Achamos estranho. Ainda<br />

entendíamos muito mal o idioma castelhano.<br />

Depois, chegamos ao Chile, às vésperas do golpe, sem saber, é claro do <strong>que</strong> nos esperava.<br />

Na<strong>que</strong>le país, senti mais conforto, por<strong>que</strong> julgava <strong>que</strong> lá, finalmente, poderíamos iniciar<br />

vida nova... Ledo engano!<br />

De qual<strong>que</strong>r forma, impressionaram-me comentários a respeito das enormes diferenças<br />

culturais entre o Brasil e o Chile. Eu ouvia as conversas e ficava pensativa, mas muito<br />

encantada com o Chile, embora já houvesse cheiro de golpe no ar.<br />

No momento do golpe, só terror. Quando fomos presos, pensei <strong>que</strong> seríamos executados.<br />

- Onde estão as armas? Onde estão as armas? - Gritavam sem parar os carabineiros. Não<br />

nos mataram por<strong>que</strong> eu, como sabia muito bem trabalhar com gesso, consegui ocultar a<br />

arma <strong>que</strong> tínhamos em casa, em um buraco na banheira, antes de a casa ser invadida. O<br />

perigo de morte nos acompanhou do dia 11 de setembro até o dia 19 de novembro,<br />

quando desembarcamos em Estocolmo. Neve e fim das perseguições. Seria verdade?<br />

Na Suécia, compreendi, verdadeiramente, o <strong>que</strong> significava diferença cultural.<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - exÍlio 519

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!