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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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Manhã gloriosa a do dia seguinte. Acordamos cara amarrotada, corpo torto por dormirmos<br />

sentados. Logo <strong>que</strong> ouvimos e vimos os patrícios, percebemos <strong>que</strong> tínhamos chegado ao<br />

nosso lugar! Que maravilha! Igualzinho ao Brasil, como havíamos previsto! Os policiais,<br />

uniformizados, bocejavam e espreguiçavam-se com languidez ... Alguns coçavam o saco<br />

sem a menor cerimônia! Os únicos países do mundo onde os seres humanos masculinos<br />

praticam a “coçação de saco” são Brasil e Portugal. Jamais vi isso em outro lugar.<br />

Estávamos em casa. Fantástico!<br />

Esperamos dar sete da manhã para poder passar pela fronteira. A gente tinha chegado<br />

cedo. Às gargalhadas, observamos os caras coçando o saco, assim, publicamente. Hilário.<br />

Pegaram os passaportes “Olhem! Venham ver! Venham ver! Venham ver! É da ONU! É da<br />

ONU!” Olhavam para nós. “Ah! Que lindo, <strong>que</strong> lindo!” Admirados, nunca tinham visto<br />

a<strong>que</strong>le tipo de documento. Grande simpatia e naturalidade. Muita alegria. Estávamos,<br />

definitivamente, em casa.<br />

A validade do meu verdinho vencera em Portugal. Fui ao consulado brasileiro, preenchi<br />

formulários, tirei fotos, mas o documento não foi renovado. Demoraria, disseram-me.<br />

Tinham <strong>que</strong> consultar as autoridades brasileiras.<br />

Sem documentos válidos, apresentei-me no consulado sueco e, depois de um telefonema,<br />

já <strong>que</strong> morava em Estocolmo, deram-me um documento provisório com o qual eu poderia<br />

viajar de volta à Suécia, onde obteria o definitivo. Ofereceram-me empréstimo para<br />

pagar a viagem de volta, de avião.<br />

Os Castores e o Luiz Carlos voltaram de carro. Eu fi<strong>que</strong>i mais um pouco em Lisboa, com a<br />

Lilliam, o Jaime, o Iuri e o Simões <strong>que</strong> haviam chegado. Fi<strong>que</strong>i em companhia da família<br />

<strong>que</strong> eu tinha adotado. Carapaus na brasa, bacalhau, arroz doce e outros quitutes,<br />

principalmente, comportamentais. Feliz da vida.<br />

514<br />

VI<br />

Entrei com pedido de renovação do passaporte brasileiro no consulado assim <strong>que</strong> voltei<br />

para Estocolmo. Nada. Nada. Nada. Tentei de tudo. Falei com pessoas. Entreguei Atestados<br />

de Bons Antecedentes, obtidos na Polícia, por meu incansável pai, Seu Bernardino, no<br />

Brasil, prova de <strong>que</strong> não havia nenhum processo contra mim. Chorei. Enchi o saco do<br />

cônsul. Chorei e chorei. Escrevi carta ao Itamaraty. Minha prima Marly, <strong>que</strong> mora em<br />

Brasília, tentou vários expedientes. Fui ao consulado ene vezes. Pedi ao Simões <strong>que</strong><br />

consultasse advogados. Não desisti. Enchi o saco do cônsul. Chorei. Chorei. Enchi o saco<br />

do cônsul. Chorei para caralho. Quase pirei. Pirei?

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