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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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Até hoje não mais assisto a filmes de guerra, com sons de rajadas, estrondos de bombas<br />

ou tiros. Uma vez, em Estocolmo, abandonei o cinema aos prantos.<br />

Entrei na Suécia, no dia 17 de novembro de 1973, com um papel da ONU, o passaporte,<br />

na bolsa, não lembro por quê. Na entrevista com a imigração sueca entreguei-o. Sem<br />

saída do Brasil nem entrada na Suécia, em meu documento foi carimbado o visto de<br />

permanência, a permissão para viver e trabalhar na<strong>que</strong>le país amigo e acolhedor.<br />

lÁ<br />

V<br />

Em 1975, depois da Revolução dos Cravos em Portugal, resolvemos visitar nossos<br />

ancestrais históricos. Estávamos ansiosos, há mais de dois anos sem estar em um universo<br />

de língua portuguesa. Sentíamos muita falta de nós mesmos. Na<strong>que</strong>le verão, inúmeros<br />

exilados brasileiros na Europa tiveram a mesma ideia. Bela viagem, sem pressa. De carro,<br />

fusca, sacos de dormir, barraca, fomos, por terra, acampando Europa afora. Luiz Carlos e<br />

eu, Castor e Castora. Desse grupo eu era a única <strong>que</strong> tinha “segurança” por possuir<br />

passaporte brasileiro. Os demais tinham Documento de Viagem da Convenção de<br />

Genebra, para refugiados – Resedokument.<br />

Nossa passagem pela Espanha franquista foi meteórica. Muito medo. Muito calor. Todo<br />

mundo nervoso. Ao lado do carro, a fim de parecer <strong>que</strong> éramos turistas comuns, trazíamos,<br />

amarrado, um caniço. Disfarces antes da fronteira espanhola. Os Castores, ao invés da<br />

aparência hippie <strong>que</strong> mantinham em Estocolmo, trajavam roupas bem “normais”. O<br />

Castor penteou o cabelo e fez ar sério. A Castora, mulata, amassou, achatou o cabelo<br />

black power com um lenço. Ridículo hoje. Todo mundo de cara lavada, denotando<br />

sobriedade para não despertar desconfianças, entramos e passamos direto através<br />

da<strong>que</strong>le país. Temperatura alta. Não podíamos parar para nada. A Castora passou mal,<br />

vomitou na entrada. Cruz-Credo!<br />

Badajós! Chegamos à noite na fronteira com o esperado Portugal. Surpresa! Fechada a<br />

passagem. Era tarde e somente reabriria às sete da manhã do dia seguinte. Caramba!<br />

Fechar fronteira para dormir! Coisa de piada de português, pensamos. Achamos<br />

engraçado. Em seguida... Que maçada! Mortos de cansados por<strong>que</strong> não tínhamos parado<br />

na Espanha. Ali perto, dormimos no fusca. Uma merda.<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - exÍlio 513

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