06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

circunstâncias. Eu era alta, esguia, morena – não tinha aparência chilena. Nas ruas,<br />

patrulhas revistavam qual<strong>que</strong>r um. Estampidos.<br />

Na embaixada do Brasil em Santiago, quando pedi ajuda, fui tratada como um bicho com<br />

doença contagiosa.<br />

Assim <strong>que</strong> houve abertura do aeroporto, chegaram, para nossa salvação afetiva, o Simões,<br />

pai de Lilliam e do Reinaldo e os pais do Jaime. O Simões é e sempre será meu grande<br />

amigo sogro. Em 19<strong>68</strong>, casei-me, pela primeira vez, com o filho mais velho dele e da<br />

Margot, eterna sempre amiga – e sogra segundo as regras do Direito Civil. O casamento<br />

foi cedo “para as picas”, mas a amizade com os familiares é perene. A minha amizade com<br />

a Margot constituiu extraordinário capítulo à parte na minha vida – hors-concours.<br />

Desde <strong>que</strong> a conheci, até seus últimos dias na face da terra, fomos grandes amigas.<br />

Levadas pelo Simões, transferimo-nos para um hotel, apavoradas por estar na<strong>que</strong>le local,<br />

cuja porta poderia ser aberta com o molho de chaves do chefe do grupo de carabineiros<br />

<strong>que</strong> tinha invadido o apartamento. Certo dia, de táxi, fui, outra vez, até os portões do<br />

Estádio Nacional para consultar as famigeradas listas. Perigo. No caminho, entreguei um<br />

papel ao motorista, quando nos aproximamos de uma das várias patrulhas <strong>que</strong> allanavan,<br />

revistavam veículos. No papel, escrevi meu nome e o nome do hotel onde estávamos.<br />

Pedi <strong>que</strong> ele avisasse o Simões, caso eu fosse levada pelos policiais.<br />

Nunca achei o nome do Luiz Carlos Guimarães nas listas. Risco. Desespero. Coração na<br />

boca. Nosso carro não foi parado. Tiros.<br />

No dia 29 de setembro, creio, entramos eu e a Lilliam em Padre Hurtado, convento <strong>que</strong><br />

se tornou um dos refúgios, “meio” protegidos pela ONU, isto é, pelo ACNUR, Alto<br />

Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, abertos em Santiago. Meu <strong>que</strong>ridíssimo<br />

Simões, protetor, eterno sogro amigo, nos acompanhou até lá. Saudade. Medo. Angústia.<br />

Ansiedade.<br />

A Leyla voltou para o Brasil com o Simões. Depois <strong>que</strong> chegou, foi presa, em casa, no Rio.<br />

A primeira pessoa <strong>que</strong> encontrei em Padre Hurtado foi o Érik, hoje Castor, sempre Roberto.<br />

Era amigo de muito, muito antes. Procurado pela polícia política, com seu retrato em<br />

cartazes espalhados pelo Brasil inteiro, às vezes, escondia-se lá em casa, no Rio. Saía sem<br />

ser visto. Dormia com o revólver ao lado do travesseiro. Sempre gostei muito dele. Adorei<br />

510

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!