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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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de pista dupla. Quase não se podiam ver os veículos <strong>que</strong> vinham em sentido contrário,<br />

por causa da neblina.<br />

As terras, ao lado das pistas, pareciam campos de trigo. O tempo e a paisagem lembravam<br />

os pampas do Rio Grande do Sul. Depois, podia-se ver a grama compacta nas margens da<br />

estrada, mais parecida com as descrições das estepes siberianas. Surgia, logo, a ideia de<br />

comparar com o clima do sul do Brasil. Mas não era a mesma coisa. Havia algo na<strong>que</strong>la<br />

natureza, talvez a pouca luz da penumbra do fim da tarde <strong>que</strong>, apesar de tudo, me<br />

deixava calmo.<br />

Sentado ali, no banco de trás do veículo, refleti sobre a cena de entrada do aeroporto de<br />

Malmö. O olhar dos policiais, ali, próximos, eu imprensado, com o hálito deles soprando<br />

na minha cara. A<strong>que</strong>le ar de espanto, como se eu fosse de Marte. Como se os europeus<br />

não tivessem chegado no Brasil ou no Caribe, antes de nós aparecermos na<strong>que</strong>las<br />

paragens!? Eles me perguntavam, com a linguagem do corpo, dos gestos, será este um<br />

dos selvagens <strong>que</strong> Darwin disse <strong>que</strong> a civilização deveria exterminar? Para eles, talvez<br />

fosse difícil entender. Mas, para mim, não tinha <strong>que</strong> explicar por <strong>que</strong> estava ali, viajando<br />

em direção a Lund.<br />

A casa de Guilem Rodrigues da Silva foi, na<strong>que</strong>la época, uma espécie de Consulado do<br />

Brasil em Lund. Inoficial. Um tipo de lugar onde apareciam muitos brasileiros <strong>que</strong> viviam<br />

na Europa, estudantes da Bulgária, viajantes de volta à América Latina e pessoas como<br />

eu. A casa de Guilem se constituía em um ponto de referência.<br />

Quando cheguei lá, depois de pagar o táxi, não encontrei o Guilem. O movimento<br />

inusitado de pessoas já havia torpedeado o casamento do homem. Só fui encontrá-lo<br />

algum tempo depois. Quem apareceu foi o Antonio Geraldo <strong>que</strong> me alocou em outra<br />

casa.<br />

Pensei: “não <strong>que</strong>ro ficar muito tempo aqui, talvez só um mês... O tempo suficiente para<br />

estabelecer contatos <strong>que</strong> me levarão de volta ao Brasil”.<br />

Passei dez anos na Suécia!<br />

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