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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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Na primeira parada, dentro do corredor, subiram os guardas da DDR, República<br />

Democrática Alemã e tive <strong>que</strong> explicar por <strong>que</strong> não tinha visto. Eles me deram na hora,<br />

e cobraram uma taxa. Pelas informações <strong>que</strong> tinha, ninguém saltava da<strong>que</strong>le trem, no<br />

corredor. Era um gênero de fronteira. Ao contrário das calúnias e do terror <strong>que</strong> se espalha<br />

no ocidente sobre os comunistas, foi o lugar da Europa onde me trataram melhor. Nada<br />

de perguntas sobre minhas intenções na terra ou olhares de desprezo, ou racismo<br />

enrustido dos guardas. Fenômeno comum na Alemanha Ocidental onde, em princípio,<br />

todo estrangeiro é suspeito de ser imigrante ilegal ou terrorista. Na época, as <strong>que</strong>stões de<br />

terrorismo na Alemanha Ocidental estavam ligadas ao combate <strong>que</strong> faziam ao grupo<br />

Baader-Meihof ou, então, ao estrangeiro <strong>que</strong> fosse confundido com um árabe palestino.<br />

Cheguei em Berlim à tarde, quase noite, e fui direto a um hotelzinho <strong>que</strong> vi, próximo da<br />

estação ferroviária. Era um desses parecidos com o <strong>que</strong> temos no Brasil, pe<strong>que</strong>no, com<br />

poucos quartos. Preenchi a ficha do hotel e fui direto para o quarto.<br />

Saí, depois, para tentar comer alguma coisa. O porteiro me examinou e parecia <strong>que</strong><br />

desejava falar algo, mas ficou calado. Eu também. Ele tinha rugas profundas no rosto,<br />

parecia um veterano de guerra. Na rua, observei a cidade de Berlim Ocidental. Já a<br />

conhecia pela História. Parecia uma vitrine, prédios moderníssimos, ao lado das ruínas da<br />

guerra. Fi<strong>que</strong>i estudando onde encontraria uma agência de passagens. Tinha <strong>que</strong> agir<br />

rápido, pois não poderia ficar por muito tempo na<strong>que</strong>la cidade desconhecida por mim,<br />

sem contatos. Precisava de alguém <strong>que</strong> pudesse me ajudar. Voltei ao Hotel, estirei-me na<br />

cama e dormi.<br />

Pela manhã, saí à procura da estação de trens. No guichê, fui informado de <strong>que</strong> só havia<br />

trem para Dinamarca no sábado, às sete horas. Era uma terça-feira. Decidi procurar uma<br />

companhia aérea. Entrei no primeiro escritório <strong>que</strong> vi, uma agência da Lufthansa. <strong>Queria</strong><br />

comprar só a passagem de ida. Imaginava ser possível. O funcionário, depois de certificarse<br />

de minha nacionalidade, procurou explicar-me, em precário espanhol, <strong>que</strong> isto não era<br />

permitido.<br />

- Nós não poder vender passagem só de ida, do contrário, companhia ser obrigada a<br />

pagar sua passagem de volta.<br />

Meu destino já estava gravado no mapa de minha cabeça. Comprei passagem para<br />

Malmö, na Suécia, por<strong>que</strong> era o lugar mais próximo de Lund, onde, finalmente, pretendia<br />

chegar.<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - reTiraDaS 497

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