06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

dos mais efetivos e havia um grande risco de <strong>que</strong> informações de Brasília já tivessem<br />

chegado ao Rio.<br />

Decidi tentar o Galeão. O fator decisivo foi a estreia da seleção brasileira de futebol na<br />

Copa do <strong>Mundo</strong> de 1970. Em 3 de junho, o Brasil iria estrear jogando contra a<br />

Tchecoslováquia no Estádio de Jalisco em Guadajalara, no México.<br />

Como sempre as expectativas eram enormes em torno de um jogo da seleção pela Copa<br />

do <strong>Mundo</strong>. A cidade e o resto do país estavam quase em transe. Discussões, palpites,<br />

opiniões e comentários de todos sobre tudo o <strong>que</strong> se referia à Seleção Brasileira. A<br />

ditadura investia pesado na Copa do <strong>Mundo</strong> exigindo a vitória. Esse investimento fazia<br />

parte das campanhas da ditadura como “Brasil ninguém segura esse país”, “Brasil ame-o<br />

ou deixe-o”, “Brasil conte comigo”. A preocupação do governo da ditadura era tamanha<br />

<strong>que</strong>, durante a fase de preparação, o técnico João Saldanha foi afastado do cargo por<br />

ordem direta do general Garrastazu Médici.<br />

O começo do jogo estava marcado para 16 horas, horário local. Fiz as contas e daria 19<br />

horas, hora do Rio. Perfeito. O voo 820 da VARIG deveria deixar o Galeão por volta das<br />

23h30min. Mar<strong>que</strong>i a passagem apostando um pouco na sorte e muito na filosofia do<br />

brasileiro. Com toda a certeza, no aeroporto na<strong>que</strong>la noite, os agentes da Polícia Federal<br />

estariam muito mais interessados em ver ou ouvir o jogo de estreia da seleção na Copa<br />

do <strong>Mundo</strong>. A verificação minuciosa dos passaportes seria colocada em segundo plano.<br />

Morrendo de medo, no Aeroporto do Galeão, entrei na fila do controle de passaportes,<br />

<strong>que</strong> se apresentava mais ou menos longa, umas trinta pessoas, talvez, mas andava bem<br />

rápido e sem atropelos. Tinha montado um pe<strong>que</strong>no es<strong>que</strong>ma de segurança <strong>que</strong> envolvia<br />

dois companheiros. Nenhum dos dois sabia da existência do outro. O primeiro permanecia<br />

no saguão do aeroporto para conferir o meu embar<strong>que</strong>. Tinha chegado só, usando o<br />

próprio automóvel. Caso eu caísse no controle de passaportes, era sua função deixar o<br />

aeroporto discreta e rapidamente com o objetivo de avisar amigos e familiares <strong>que</strong>,<br />

então, fariam a denúncia da minha prisão. O segundo foi <strong>que</strong>m me levou de carro ao<br />

aeroporto. Deixou-me na entrada do terminal, estacionou o veículo numa vaga próxima,<br />

sentou-se num banco do lado de fora e ficou esperando. Caso houvesse necessidade e<br />

possibilidade de fuga, ele me levaria de carona para um endereço pré-estabelecido.<br />

Os quinze ou vinte minutos em <strong>que</strong> fi<strong>que</strong>i na fila de passaporte na<strong>que</strong>la noite foram, até<br />

agora e sem dúvida alguma, os mais longos e angustiantes da minha vida. Pulso bem<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - reTiraDaS 491

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!