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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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- Mas por um bom dinheiro tem gente <strong>que</strong> faz.<br />

Retomamos a conversa e ele se dispôs a “dar uma olhada na praça e ver se achava alguém<br />

<strong>que</strong> estivesse interessado”. Pouco tempo depois, ele me passou o contato de outro<br />

despachante, em Campinas. Fui até lá. E de repente o trâmite andou muito rápido.<br />

- Doutor, eu descolo um passaporte para o senhor com visto de saída e tudo. No mesmo<br />

dia. Só preciso da sua certidão de nascimento no original, uma cópia do título de eleitor<br />

e uma cópia do o certificado de reservista e um dinheirinho, né?<br />

O dinheirinho era na verdade um dinheirão, uma pe<strong>que</strong>na fortuna. Tentei negociar.<br />

- Mas isso é muito dinheiro. São quase doze salários mínimos.<br />

- Doutor! O senhor precisa do passaporte. E eu preciso falar com muita gente e acertar<br />

muitos detalhes. Tem gente <strong>que</strong> vai fechar os olhos, outros vão sair para tomar um café.<br />

Tudo isso antes de eu ter o passaporte do senhor na minha mão. O preço é fixo, doutor.<br />

Mais uma vez tive <strong>que</strong> recorrer aos amigos para juntar os recursos necessários. Voltei a<br />

Campinas com a quantia e os documentos pedidos. Não deu outra! No fim da tarde lá<br />

estava o passaporte verdinho e todo certo com visto de saída e tudo.<br />

Então, a <strong>que</strong>stão passou a ser por onde sair do Brasil em direção à Argélia. A hipótese<br />

inicial era passar pela fronteira com o Uruguai ou a Argentina, partindo de alguma<br />

cidade no Rio Grande do Sul ou no Paraná. Havia diversas alternativas e a saída parecia<br />

relativamente simples. O problema surgia na segunda etapa da viagem. Todos os voos de<br />

Buenos Aires ou Montevidéu para Paris faziam escalas no Galeão. Arriscado, muito<br />

arriscado. Fazer a rota Montevidéu-Lima-Paris era caríssimo e simplesmente não havia<br />

condições. Não era uma alternativa.<br />

Aos poucos foi ganhando força um pensamento meio maluco na minha cabeça. Por <strong>que</strong><br />

não tentar sair pelo Galeão mesmo? Riscos? Sem dúvidas, mas com um pouco de sorte<br />

poderia até dar certo. Havia prós e contras. Do lado positivo colocava-se o fator surpresa<br />

e o absurdo da situação. Muito poucos dos perseguidos pela ditadura, na<strong>que</strong>la época,<br />

planejariam deixar o país passando pelo Galeão. Também era positivo o fato de o<br />

passaporte não ser falso. Por outro lado, o controle da Policia Federal no aeroporto era<br />

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