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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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contatos com a organização e não havia, na<strong>que</strong>le momento, como refazê-los. Muito<br />

arriscado para mim e totalmente irresponsável do ponto de vista da organização. O mar<br />

não estava para peixe. Estava na hora deixar a pátria amada. Mas como? Para onde ir? E<br />

os documentos? E dinheiro? Como sobreviver em um outro país se as coisas já estavam<br />

pretas aqui? Como sempre, nessas ocasiões, as perguntas eram muitas e as respostas<br />

inexistentes.<br />

Por meio de amigos, confirmei as notícias na mídia de <strong>que</strong> Oscar Niemeyer iria compor<br />

uma nova equipe de arquitetos brasileiros para desenvolver projetos na Argélia. Tratavase<br />

de dois projetos: o campus da Universidade de Constantine e o novo Centro<br />

Administrativo do governo na capital Argel. Pensei <strong>que</strong> por aí talvez houvesse uma<br />

solução para a minha retirada.<br />

Muito sol na Avenida Atlântica neste fim de verão, mas é uma terça-feira, dia de semana,<br />

e por isso a praia não está lotada. Pego o elevador e vou até o andar da cobertura. Toco<br />

a campainha e, depois de pouco tempo, a porta se abre. Para minha surpresa, é o próprio<br />

Oscar Niemeyer <strong>que</strong>m está atrás da porta do escritório. Fico um pouco embaraçado, mas<br />

digo algo como:<br />

- Fui eu <strong>que</strong> lhe telefonei na semana passada, de São Paulo, para conversar sobre os<br />

projetos na Argélia.<br />

- Isso mesmo! Entre, entre! Você trabalhou com o Lélé em Brasília, eu agora me lembro<br />

de você.<br />

Conhecia Oscar Niemeyer fazia algum tempo. Algumas vezes nos encontramos no<br />

escritório do Lélé em Brasília onde trabalhei nos anos de19<strong>68</strong>-69. O escritório funcionava<br />

como ponto de encontro dos arquitetos <strong>que</strong> colaboravam com Oscar Niemeyer ou tinham<br />

trabalhado em seus projetos em Brasília. Alguns ex-professores, expulsos, do ICA-FAU<br />

(Instituto Central de Artes-Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) da UnB costumavam<br />

também aparecer para bater papo. Ítalo Campofiorito, Glauco Campelo, Fernando<br />

Burmeister, Luis Carlos Magalhães, Edgard Graeff são alguns dos nomes <strong>que</strong> me vêm à<br />

memória agora, mas a lista poderia ser muito mais longa.<br />

Sentamo-nos num canto do escritório e eu, durante mais ou menos meia hora de<br />

conversa, relatei a minha história. Procurado pela repressão, sem possibilidades de<br />

estudar ou trabalhar, com dificuldades sérias de arranjar moradia, por isso tinha-me<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - reTiraDaS 487

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