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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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estada em São Paulo, mudei umas quatro ou cinco vezes de pensão para evitar muitas<br />

perguntas, pois corria o risco de ser descoberto. A rotina era muito estranha. Entre um<br />

biscate e outro, a maior parte do tempo era consumida em longas caminhadas pela<br />

cidade para dar a impressão de ter um horário normal de trabalho e, assim, não levantar<br />

maiores suspeitas. A isso se juntava um pavor constante de ser surpreendido em um<br />

controle de documentos de rotina ou ainda de ser apanhado pela repressão por causa de<br />

alguma infração de trânsito.<br />

O tempo passando e a realidade piorando.<br />

No país inteiro houve um aumento da repressão em 1969. Depois do AI-5, a luta armada<br />

contra a ditadura se acirrou e as forças da resistência conseguiram algumas vitórias em<br />

ações bem sucedidas, algumas delas espetaculares, como o se<strong>que</strong>stro do embaixador<br />

norte-americano.<br />

Em Brasília, a polícia política deu várias batidas, algumas delas noturnas, na casa de meus<br />

pais, na esperança de me encontrar por lá. Ao <strong>que</strong> tudo indica, ficaram bem confundidos,<br />

pois não podiam entender como é <strong>que</strong> eu tinha sumido tão rapidamente da capital<br />

federal. Esse conjunto de circunstâncias continuou por algum tempo sem outro resultado<br />

senão o de causar medo e indignação aos meus familiares aterrorizados.<br />

Mais ou menos três meses depois da minha prisão, a família vendeu o meu carro para<br />

fazer um dinheirinho. Quinze dias depois da transação, o comprador voltou e, aos gritos,<br />

<strong>que</strong>ria devolver o veículo, pois ele já tinha sido detido três vezes em batidas do DOPS, <strong>que</strong><br />

continuava procurando por mim. Obviamente seu pedido de devolução não foi atendido.<br />

O tempo passando e a conjuntura piorando.<br />

As investigações da repressão acabaram descobrindo a minha militância no movimento<br />

estudantil e também na AP. Fui então enquadrado no decreto 477 e indiciado em pelo<br />

menos dois IPM (Inquérito Policial Militar) o <strong>que</strong> imediatamente me colocou na condição<br />

de foragido da justiça.<br />

O tempo passando e a situação piorando.<br />

Nessa altura dos acontecimentos, logo depois do ano novo de 1970, decidi <strong>que</strong> estava na<br />

hora de deslocar-me para outro do país. Já não militava, pois tinha perdido todos os<br />

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