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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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Prates, no caso, era Jose Antonio Prates, estudante de arquitetura da UnB, ex-presidente<br />

do DACAU (Diretório Acadêmico de Arquitetura e Urbanismo) <strong>que</strong> mais tarde também foi<br />

presidente da FEUB (Federação dos Estudantes da Universidade de Brasília).<br />

A polícia, na<strong>que</strong>le momento, parecia só estar interessada no paradeiro do Prates. Segundo<br />

os agentes da repressão ele teria saído do campus da UnB comigo, no meu carro, por<br />

volta do meio-dia no mesmo dia em <strong>que</strong> fui preso. Isso não era verdade.<br />

Tanto Prates como eu militávamos no movimento estudantil mas pertencíamos a<br />

organizações diferentes – eu à AP e ele a outra organização. Por isso, para mim o<br />

interrogatório no DOPS tornava-se cada vez mais confuso. Surrealista, mesmo.<br />

Por alguma razão, a repressão estava atrás do Prates e, ao <strong>que</strong> tudo indicava, parecia<br />

ignorar ou não estava interessada, na<strong>que</strong>le momento, na minha militância na AP. Além<br />

disso, os policiais estavam completamente convencidos de <strong>que</strong> eu fazia parte de um<br />

es<strong>que</strong>ma de segurança <strong>que</strong> garantia a entrada e a saída dele, Prates, no campus da UnB.<br />

Também isso não era verdade o <strong>que</strong>, de certa forma, favorecia um pouco as minhas<br />

condições... Se é <strong>que</strong> se pode falar em facilidade quando você está sendo interrogado<br />

pelos os órgãos da repressão.<br />

José Prates eu conhecia bem. Muitas vezes dei carona a ele (e a muitos outros) entre a<br />

UnB e o plano piloto como se dizia na época. Mas na<strong>que</strong>le dia, não. Eu tinha permanecido<br />

o dia inteiro no campus e somente voltei para casa no fim da tarde para ir ao cinema.<br />

Restava, então, a hipótese de ele, Prates, ter deixado a UnB na hora do almoço, dentro do<br />

citado automóvel. Isso pode ter acontecido.<br />

O Gordini, na época, era meu só no papel. Sem dúvida era eu <strong>que</strong>m o dirigia na maioria<br />

das vezes. Mas, na prática, muitas outras pessoas usavam o carro, <strong>que</strong> era, digamos assim,<br />

uma propriedade coletiva. No dia-a-dia, era usado por mim, por meu irmão e por muitas<br />

outras pessoas entre nossos amigos e conhecidos. Havia várias chaves de ignição das<br />

quais eu e meu irmão dispúnhamos cada um da sua. Mas havia outras. Nossas namoradas<br />

e, às vezes, os irmãos e irmãs delas também usavam o automóvel. Na realidade, uma<br />

grande quantidade de pessoas podia usá-lo segundo as necessidades do momento, sem<br />

<strong>que</strong> eu, o feliz proprietário, tomasse conhecimento. Depois de utilizado, o carro seria,<br />

incondicionalmente, estacionado em frente ao prédio do ICA. Isso era lei. Por isso é<br />

possível <strong>que</strong> alguém o tenha dirigido para ir ao plano piloto levando ou não o Prates.<br />

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