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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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Brasília, 1969, última semana do mês de maio, quarta-feira. Depois de um dia atribulado<br />

no campus da UnB (Universidade de Brasília), por volta das cinco e meia da tarde, cheguei<br />

na SQS106, no apartamento onde eu morava com os meus pais. Os planos para a<strong>que</strong>la<br />

noite eram simples: um banho rápido, um sanduíche grande, depois apanhar a namorada<br />

e ir ao cinema. Filme em cartaz: 2001 Uma Odisseia no Espaço.<br />

Nada disso aconteceu.<br />

E hoje, mais de quarenta anos depois, em Estocolmo, vou tentando escrever sobre o <strong>que</strong><br />

aconteceu. Vou, aos poucos, me lembrando de tudo como se fosse num filme e, ainda por<br />

cima, em câmera lenta.<br />

Banho tomado, sanduíche comido, desço para o estacionamento, sento-me no Gordini<br />

azul e dou a partida. O veículo faz um ziguezague, deixa a vaga do estacionamento e,<br />

lentamente, vai começando a entrar no sistema viário da superquadra. A uns quarenta<br />

metros do estacionamento, sou obrigado a dar uma freada brusca. De repente, duas<br />

caminhonetes Chevrolet Veraneio, uma na minha frente e outra atrás de mim, blo<strong>que</strong>iam<br />

toda a rua e me impedem totalmente de continuar. Imediatamente, cinco agentes da<br />

repressão armados de pistolas e metralhadoras cercam o meu carro enquanto um sexto,<br />

aos berros de “sai daí seu filho da puta”, me arranca do assento do motorista e me arrasta<br />

para a viatura policial. No meio da<strong>que</strong>la confusão toda, ainda consegui gritar para o<br />

porteiro do prédio:<br />

- Seu Bartolomeu, diga ao meu pai <strong>que</strong> estou sendo preso pelo DOPS.<br />

Isso me qualificou imediatamente para uma coronhada nas costas e um lugar no chão da<br />

Veraneio, debaixo dos pés dos agentes da repressão. Vinte minutos, depois chegávamos<br />

ao DOPS de Brasília e os interrogatórios começaram imediatamente. Completamente nu,<br />

debaixo de um chuveiro de água fria, lavando cacetadas, socos e pontapés, ecoava uma<br />

única pergunta repetida constantemente pelos torturadores:<br />

- Onde está o Prates?<br />

- Onde é <strong>que</strong> você deixou o Prates?<br />

- Onde está o Prates?<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - reTiraDaS 483

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