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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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devolvidos pelos policiais uruguaios ao Brasil. Agora, na fronteira da Bolívia com o Chile,<br />

estava decidido a não repetir o erro de seis anos atrás.<br />

Durante a viagem entre Oruro e a cidade da fronteira do Chile não conversamos muito.<br />

Tanto eu como Capitani seguíamos em silêncio, enquanto o trem, vagarosamente, se<br />

aproximava do destino. Na chegada, havia certo clima de tensão no vagão em <strong>que</strong><br />

viajávamos. Quando o trem parou, finalmente, o vagão foi invadido por um grupo de<br />

policiais e guardas alfandegários. Quase <strong>que</strong> imediatamente, estabeleceu-se um clima de<br />

agressividade e desconfiança contra nós os passageiros.<br />

Aos gritos, ouvíamos as perguntas sobre nossos documentos. Um dos agentes conduzia<br />

um grande cachorro, preso a uma coleira, e com a focinheira atada. Logo, percebi <strong>que</strong><br />

a<strong>que</strong>le lugar seria nossa destinação. Não passaríamos dali. Um dos agentes perguntou<br />

pelos documentos. Exibi minha carteira de identidade e o papel, salvo conduto <strong>que</strong> trazia<br />

da fronteira do Brasil com a Bolívia.<br />

Ele se irritou. Começou a repetir em voz alta, em tom ameaçador.<br />

- Documentos de origen, documentos de origen! – disse, empurrando meus papéis. Não<br />

entendi muito <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria dizer com “documentos de origem”. Capitani, então explicou<br />

<strong>que</strong> não tínhamos passaporte. E, para não correr o risco de voltar preso, no mesmo trem<br />

para a Bolívia, pedimos asilo político, ali, dentro do vagão.<br />

Lembro-me da frase dita por Capitani.<br />

– Trata-se de asilo político.<br />

Rapidamente, fomos conduzidos para fora do vagão boliviano e levados a uma sala da<br />

pe<strong>que</strong>na estação de passageiros, onde começaram os interrogatórios. A nossa preocupação<br />

era de sermos devolvidos para a Bolívia. Se assim fosse, na certa, iríamos parar na fronteira<br />

do Brasil e seríamos entregues à polícia da ditadura. Por essa razão, resolvemos revelar<br />

nossa verdadeira identidade. Estávamos com documentos com nomes falsos.<br />

Os policiais chilenos <strong>que</strong>riam saber a origem da<strong>que</strong>les documentos. É obvio <strong>que</strong> não<br />

poderíamos dar explicações referentes aos nossos papéis. Insistimos no nosso direito ao<br />

asilo político. Os agentes se dividiram. Alguns desconfiaram da nossa versão, pois não<br />

sabíamos como esclarecer nossa verdadeira identidade. Outros procuravam atordoar-nos<br />

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