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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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um dos comandantes <strong>que</strong> teria dado continuidade à luta de guerrilhas nas montanhas.<br />

Nossa única possibilidade era chegar o mais rapidamente possível à fronteira. Os<br />

documentos de identificação de <strong>que</strong> dispúnhamos eram um salvo-conduto boliviano,<br />

dado como documento provisório, e carteiras de identidade falsas. Um exame mais<br />

acurado de qual<strong>que</strong>r policial aos nossos documentos levaria à nossa prisão.<br />

Até então, a casualidade nos havia favorecido. Por duas vezes, a polícia detivera-nos para<br />

controle de documentos. A primeira em Trinidad, capital do departamento de Beni, onde<br />

havíamos chegado de avião. A segunda, em Cochabamba, quando fomos obrigados a<br />

solicitar autorização para continuar viagem até o Chile. Neste caso, tivemos ajuda do<br />

boliviano Fernando. Não sabíamos se teríamos sorte na terceira vez.<br />

Agora, dentro do ônibus, em direção a Oruro, estávamos jogando uma cartada decisiva.<br />

Eu tremia só em pensar na possibilidade de sermos presos e devolvidos ao Brasil. Mas,<br />

estávamos em fuga e não havia muita escolha. O veículo seguia entupido de gente. Era<br />

um ônibus velho, de linha interdepartamental e, por essa razão, as acomodações eram<br />

precárias. Lembro-me de <strong>que</strong>, quando já estávamos acomodados para a viagem, o<br />

condutor empurrou ainda mais gente. No meio do coletivo, o corredor foi transformado<br />

em mais espaço para pessoas sentadas, em bancos improvisados.<br />

Chegamos a Oruro às duas horas da madrugada. Aconselhados pelo condutor, tivemos<br />

<strong>que</strong> dormir dentro do ônibus, por<strong>que</strong> lá fora fazia muito frio. Hotel, nem pensar! Devíamos<br />

aguardar o horário do trem <strong>que</strong> sairia pela manhã em direção a Ojague. Nossa intenção<br />

era prosseguir viagem até Antofagasta, no Chile.<br />

Pela manhã, às sete horas, embarcamos em um trem em direção a Calama, no Chile, mas<br />

sabíamos <strong>que</strong> teríamos de passar pelos controles da policia de fronteira em Ojague. Eu<br />

não sabia nenhuma palavra de espanhol, apesar de achar <strong>que</strong> isso não seria um grande<br />

problema. Por sorte, Capitani, <strong>que</strong> havia vivido em Cuba, dominava o idioma dos nossos<br />

vizinhos, sem maiores dificuldades.<br />

A viagem foi tranquila, sem maiores percalços. Chegamos a Ojague às doze horas.<br />

Surpreendeu-me o tamanho da cidade! Era apenas um posto de fronteira, algumas casas,<br />

a estação do trem, uma torre de rádio de comunicação e algumas pe<strong>que</strong>nas construções<br />

de madeira. Na<strong>que</strong>le momento, passou pela minha cabeça, como em um filme, um<br />

incidente <strong>que</strong> havia ocorrido comigo na fronteira do Uruguai, em 1964, seis anos antes.<br />

Junto com o Helio tínhamos sido detidos na fronteira de Santana do Livramento e<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - reTiraDaS 475

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