06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Considerando <strong>que</strong> não foi cumprida de imediato, repetiram-na diversas vezes, sem<br />

sucesso, o <strong>que</strong> levou o “supervisor” a mandar arrancá-la à força.<br />

Assustei-me com o estrondo provocado pelo impacto violento de um corpo contra a<br />

porta de minha cela. Gritos, ruído de luta corporal, perda de controle da situação por<br />

parte dos inquisidores, desespero do tenente gritando:<br />

- Cabo da guarda! Cabo da guarda! Cabo da guarda!<br />

Quedei-me surpreso e admirado! Alguém estava enfrentado fisicamente os torturadores,<br />

com tal eficácia <strong>que</strong> foi preciso chamar reforços. Era a primeira vez <strong>que</strong> presenciava uma<br />

atitude dessas.<br />

Com a chegada dos reforços, o recalcitrante, <strong>que</strong> insistia em não se submeter ao capricho<br />

dos carrascos, foi dominado e fez-se silêncio. Como de praxe, desobedeci às ordens<br />

recebidas e arrastei-me cuidadosamente pelo chão até as frestas existentes entre as<br />

tábuas da porta, através das quais era possível enxergar o cenário do conflito.<br />

Vi um homem de meia idade, deitado com a barriga para baixo, as mãos e pés amarrados<br />

às costas, o corpo marcado pelos sinais da luta, maltrapilho, porém, vitorioso por<strong>que</strong><br />

vestido!<br />

Não tenho hoje uma noção clara do tempo <strong>que</strong> durou o interrogatório de meu herói.<br />

Tenho certeza, porém, de <strong>que</strong> permaneceu imobilizado na<strong>que</strong>la posição durante dias,<br />

pois fi<strong>que</strong>i impedido de sair de minha cela para as refeições <strong>que</strong> fazia no rancho dos<br />

soldados e os agentes não tinham coragem de soltá-lo.<br />

Outros fatos também jamais se apagaram de minha mente: o ruído do magneto de<br />

telefone de campanha <strong>que</strong> era usado para aplicar cho<strong>que</strong>s elétricos em seu corpo,<br />

contrastando com o absoluto silêncio do interrogado <strong>que</strong> se recusava a gemer ou gritar<br />

de dor; o cheiro forte dos produtos químicos <strong>que</strong> lhe foram injetados na tentativa inútil<br />

de fazê-lo dar informações; a serenidade, firmeza e segurança com <strong>que</strong> se dirigia aos<br />

inquisidores, demolindo seus argumentos e certezas, frustrando suas estratégias.<br />

Alguns diálogos <strong>que</strong> ouvi tornaram-se ines<strong>que</strong>cíveis. A um jovem oficial <strong>que</strong> se jactava<br />

de ser um militar, “profissional de guerra”, desmoralizou junto a seus comandados com<br />

uma pergunta simples: “em <strong>que</strong> guerras você lutou para considerar-se um profissional?”<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - SoliDarieDaDe e CaMaraDaGeM No CÁrCere 467

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!