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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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17.6 resistir<br />

- Cabo da guarda! Cabo da guarda! Cabo da guarda!<br />

466<br />

Newton Leão Duarte<br />

O grito de alarme do esbirro de plantão alertou-me para algo diferente acontecendo no<br />

prédio do Pelotão de Investigações Criminais – PIC, do 1º Batalhão de Polícia do Exército<br />

– PE, na Barão de Mesquita.<br />

Fui preso no dia 20 de julho de 1969, mesmo dia em <strong>que</strong> o homem pisou pela primeira<br />

vez na lua. Hoje percebo <strong>que</strong> foram duas experiências extraterrestres: os americanos<br />

desembarcando em solo lunar e eu adentrando os domínios da sede da repressão na PE.<br />

Quis o destino, ou talvez os meandros por onde se perdeu meu IPM, <strong>que</strong> minha<br />

permanência ali se prolongasse por cerca de intermináveis sete meses. Ao longo deste<br />

tempo, presenciei e experimentei na pele a evolução técnica e operacional do aparato<br />

repressivo na<strong>que</strong>la unidade do Exército Brasileiro, desde o PIC, <strong>que</strong> atuava em parceria<br />

com o DOPS, ao poderoso DOI-CODI.<br />

Ao final de 69, início de 70, o elevado número de pessoas presas na PE excedia os espaços<br />

disponíveis para o encarceramento, obrigando a <strong>que</strong> os detidos fossem alojados em<br />

corredores e escadas. A pressa dos agentes em obter informações e confissões, por sua<br />

vez, tornavam insuficientes as salas reservadas para interrogatórios e torturas, <strong>que</strong><br />

passaram a ser praticadas em qual<strong>que</strong>r espaço disponível, inclusive nas ante-salas das<br />

celas onde se encontravam detidos os presos mais antigos.<br />

Na<strong>que</strong>le dia, eu, já considerado o decano dos presos da PE, encontrava-me lendo no<br />

beliche, quando um agente olhou pela vigia da porta de minha cela gritando:<br />

- Aí, seu piroca, fica deitado aí, senão tu vai entrar no pau também!<br />

Esta era a senha para eu saber <strong>que</strong> iria ter início nova sessão de torturas na ante-sala em<br />

frente. Após os ruídos característicos da chegada de um grupo de pessoas, ouvi a ordem<br />

clássica, dada aos gritos:<br />

- Tire a roupa rápido, seu filho da puta!

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