06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

caracterizam-se como forma de anular a pessoa, o ser humano, a mulher, a companheira<br />

e a mãe.<br />

É difícil calcular o número da<strong>que</strong>les <strong>que</strong> se opuseram à ditadura após o golpe de 1964,<br />

em nosso país. Mais difícil ainda apontar quantas mulheres participaram desse processo.<br />

No Projeto Brasil Nunca Mais, consta <strong>que</strong> 884 mulheres foram presas e denunciadas à<br />

Justiça Militar à época. Entretanto, acredito <strong>que</strong> esse número seja bem maior, tendo em<br />

vista <strong>que</strong> muitas presas – como foi o meu caso – não foram levadas à Justiça Militar e<br />

muitas <strong>que</strong> militaram no período não chegaram a ser presas.<br />

Além disso, pelo levantamento feito por entidades de direitos humanos publicado no<br />

Dossiê dos Mortos e Desaparecidos Políticos a partir de 1964 (1995) há 24 mulheres<br />

mortas e 20 desaparecidas, números <strong>que</strong> consideramos bastante incompletos ainda.<br />

Podemos constatar, porém, <strong>que</strong> não foi pe<strong>que</strong>no o número de mulheres participantes da<br />

luta contra o regime militar. Contudo, trabalhos sobre tais experiências são muito<br />

escassos. Há, sim, livros de terceiros sobre algumas dessas mulheres vivas ou mortas como<br />

Iara Iavelberg, Sônia Maria de Moraes Angel Jones, Zuzu Angel, Carmela Pezzuti, algumas<br />

guerrilheiras do Araguaia, reportagens e trabalhos acadêmicos sobre algumas delas.<br />

Relatos pessoais das experiências não há nenhum. Ao escrever este artigo, constatei <strong>que</strong><br />

não existem livros feitos pelas próprias mulheres. Fica a certeza de <strong>que</strong> essas histórias<br />

precisam ser contadas.<br />

Entendo <strong>que</strong>, por mais perigoso, delicado e doloroso <strong>que</strong> seja o ato de denunciar, de falar<br />

sobre as violações <strong>que</strong> sofremos, ele é o início de uma caminhada fundamental para <strong>que</strong><br />

histórica e socialmente possamos conviver com os terríveis efeitos produzidos em nós<br />

por semelhantes práticas. A fala, a denúncia, o tornar público, retiram-nos do território<br />

do segredo, do silêncio, da clandestinidade. Com isso, podemos sair do lugar de vítima<br />

fragilizada, impotente e ocupar o da resistência, da luta, da<strong>que</strong>le <strong>que</strong> passa a perceber<br />

<strong>que</strong> seu caso não é um acontecimento isolado; ele toma forma, passa a ser parte de<br />

outros e sua denúncia, esclarecimento, “publicização” e responsabilização abrem espaços<br />

e fortalecem novas denúncias, novas investigações. A dimensão coletiva desse caminho<br />

se afirma e, com isso, temos a possibilidade de começar a tocar na não responsabilização,<br />

de mostrar <strong>que</strong> tal quadro pode ser mudado, pode ser revertido.<br />

Segundo a interpretação dominante da Lei da Anistia, sancionada em 1979, no governo<br />

Figueiredo, em função dos chamados “crimes conexos”, todos a<strong>que</strong>les <strong>que</strong> cometeram,<br />

em nome da segurança nacional, crimes de lesa humanidade estariam anistiados. Ou seja,<br />

46

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!