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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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456<br />

Vou deixar de ‘dar duro’, vou viver da ‘mamata’.<br />

Aí, então, já não serei mau, perigoso ou subversivo,<br />

Serei apenas um ‘democrata’!”<br />

O professor Lauro viu o poema, riu muito e leu para todo o coletivo, <strong>que</strong> era como<br />

intitulávamos o nosso grupo. Aliás, o coletivo era uma instituição importante: todos<br />

tinham tarefas diárias relativas à limpeza do ambiente e todos os mantimentos <strong>que</strong><br />

recebíamos de nossas famílias pertenciam ao grupo. Aquilo me emocionava: na prisão eu<br />

vivia um simulacro do <strong>que</strong> eu imaginava ser uma sociedade comunista: “De cada um<br />

conforme a sua possibilidade, a cada um conforme a sua necessidade”.<br />

Sei <strong>que</strong> esse sonho vai morrer comigo, mas como é necessário sonhar!<br />

Sim, meses depois soube <strong>que</strong> o meu vizinho havia sido preso, por corrupção, é claro. Peixe<br />

miúdo!<br />

17.3 MeMÓrias da ilHa das Flores<br />

Francisco Roberval Mendes<br />

De repente chamaram meu nome. Logo depois, um fuzileiro chegou à porta da minha<br />

cela e ordenou <strong>que</strong> eu pegasse tudo (!?). Tentando esconder o sentimento <strong>que</strong> a<strong>que</strong>la<br />

incerteza me dava (“Pra onde estava me levando? Que iria acontecer?”) respondi <strong>que</strong><br />

nada tinha para levar. Desde <strong>que</strong> fora preso tinha apenas a roupa do corpo, já aliviada do<br />

cinto e dos cordões dos sapatos. Mas tornara-me comunicável e estava sendo transferido<br />

para uma cela coletiva, no outro corredor do presídio da Ilha das Flores. Falei. E muito.<br />

Não para a repressão, é claro. Ali falei pouco. Mas ao me ver entre companheiros depois<br />

de dias e dias de tortura e depois isolamento. Era sempre assim: depois de um período de<br />

incomunicabilidade, sozinho, isolado em uma cela, passava-se para o coletivo e se era<br />

colocado em uma cela já ocupada por alguns outros companheiros presos. Já não me<br />

lembro o número da cela, mas lembro-me bem dos três <strong>que</strong> lá estavam, sendo <strong>que</strong> um<br />

deles, Vitor Hugo, o Vic, já conhecia aqui de fora, do Movimento Estudantil. Os outros:<br />

Eunício Cavalcanti, de <strong>que</strong>m continuo amigo até hoje e Luís Henri<strong>que</strong>, com <strong>que</strong>m, desde<br />

minha saída da prisão, nunca mais tive contato.

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