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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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As “brilhantes” conclusões dessa pesquisa apresentavam 73% de indivíduos com<br />

dificuldades de relacionamento, escasso interesse humano e social e difícil comunicação;<br />

em suma, pessoas difíceis. Além disso, outras características lhes foram atribuídas:<br />

imaturos, desajustados, inseguros, instáveis. Portanto, a<strong>que</strong>les <strong>que</strong> se lançavam na<br />

resistência contra a ditadura militar apareciam desacreditados com a pecha de doentes,<br />

como casos patológicos <strong>que</strong> deveriam ser submetidos a tratamento.<br />

Essa pesquisa mostrou não apenas uma necessidade por parte da repressão de conhecer<br />

melhor os militantes políticos e traçar um perfil psicológico da<strong>que</strong>les <strong>que</strong> estavam sendo<br />

combatidos, mas, fundamentalmente, difundir na sociedade, nas famílias de classe média<br />

e nas mães desses jovens, em especial, a crença de <strong>que</strong> seus filhos encontravam-se<br />

doentes. Elas, em suma, eram as principais responsáveis pelos transtornos <strong>que</strong> esses<br />

jovens traziam para a nação.<br />

Ao lado dessas táticas repressivas mais sutis e tão perversas quanto as utilizadas<br />

usualmente, os órgãos diretamente vinculados à repressão sofisticavam-se dia a dia. Em<br />

1964, foi criado o Serviço Nacional de Informação, <strong>que</strong> cresceu a ponto de se transformar<br />

na quarta força armada não uniformizada. De 1967 a 1970, foram estruturados os<br />

Centros de Informações do Exército (CIE), da Aeronáutica (CISA) e da Marinha (CENIMAR),<br />

assim como “forças unificadas antiguerrilhas” <strong>que</strong> receberam financiamentos públicos e<br />

privados: os DOI-CODIs (Destacamento de Operações e Informações/Centro de Operações<br />

e Defesa Interna) <strong>que</strong>, em cada região militar do país, permaneciam sob a jurisdição do<br />

Comando Regional do Exército. Tais eram seus poderes <strong>que</strong> certa análise política falava<br />

da existência de um verdadeiro Estado dentro do Estado.<br />

A tortura foi institucionalizada. Os centros de tortura consolidaram-se como um fato<br />

real e horripilante.<br />

A tortura não <strong>que</strong>r “fazer” falar, ela pretende calar e é justamente esta a terrível situação:<br />

por meio da dor, da humilhação e da degradação tentam transformar-nos em coisa, em<br />

objeto. Resistir a tal violência revela-se como enorme e gigantesco esforço para não<br />

perder a lucidez, para não permitir <strong>que</strong> o torturador penetre em nossa alma, em nosso<br />

espírito, em nosso pensamento.<br />

Em especial, a tortura perpetrada à mulher mostra-se brutalmente machista. Inicialmente,<br />

os xingamentos, as palavras ofensivas e de baixo calão ditas agressiva e ferozmente<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> PaNoraMa HiSTÓriCo - GÊNero, MiliTÂNCia, TorTUra 45

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