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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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16.31 CirCunstÂnCias da Morte do Presidente João Goulart<br />

João Otávio Goulart Brizola<br />

Quando recebi a notícia de <strong>que</strong> meu tio João Goulart havia falecido, encontrava-me em<br />

Búzios, no litoral do Rio de Janeiro. Era uma segunda-feira de manhã e preparava-me<br />

para voltar ao Rio, onde estudava. Após comunicar-me com meus pais em Montevidéu<br />

(Leonel Brizola e Neusa Goulart Brizola), apressei o retorno para viajar imediatamente a<br />

Porto Alegre e, por terra, para São Borja, onde consegui carona com meus primos.<br />

Chegamos no dia seguinte, antes do meio-dia. O cenário já estava armado. O acesso à<br />

igreja, cercada pelo Exército e PMs, restrito, um caixão lacrado, e dezenas de sinistros<br />

agentes com óculos escuros perambulavam pela igreja. Ali, encontrei a tia Maria Teresa<br />

(esposa de Jango), minha mãe Neusa, outras tias e pessoas <strong>que</strong> haviam conseguido “furar<br />

o cerco”. O ambiente era de devastação total. Após alguns minutos fui com minha mãe à<br />

casa de um amigo e ela contou a triste odisseia <strong>que</strong> foi a viagem desde Villa Mercedes.<br />

Ficaram retidos mais de três horas na fronteira por ordem de um tal de “Coronel Negrão”<br />

<strong>que</strong> fez <strong>que</strong>stão de mostrar seus poderes ditatoriais a toda comitiva.<br />

Ainda contado por minha mãe, ao chegar a São Borja, foram preparar o corpo e, ao abrir<br />

o féretro, havia uma estranha secreção em todo o corpo (É necessário esclarecer <strong>que</strong><br />

havia outras pessoas <strong>que</strong> testemunharam este momento e o assunto foi comentado<br />

muitas vezes). Imediatamente, por ordem dos militares, aí sim, o caixão foi lacrado e não<br />

mais aberto (Seriam estas as 48 horas?).<br />

O exército não <strong>que</strong>ria permitir <strong>que</strong> fosse colocada uma Bandeira Nacional, mas prevaleceu<br />

nossa vontade. A Bandeira foi posta, assim como uma grande faixa pedindo “Anistia”. No<br />

trajeto ao cemitério, a PM quis transportar o caixão em um carro mas a multidão não<br />

permitiu, gritando aos militares <strong>que</strong> ele seguiria “nos braços do povo”. Todos nos<br />

revezamos entre a igreja e o cemitério de São Borja.<br />

O percurso foi emocionante e, mesmo desafiados e xingados, os militares não tiveram<br />

coragem de intervir. Havia mais de vinte mil pessoas. Acho <strong>que</strong> foi a primeira grande<br />

manifestação popular no Rio Grande do Sul depois do AI-5. No final, discursaram o Sr.<br />

Pedro Simon, <strong>que</strong> somente falou da vocação política de São Borja (...), e Tancredo Neves,<br />

este, sim, pediu a conciliação nacional de forma veemente. Não me lembro de outros<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - PriSõeS / ViolÊNCia iNSTiTUCioNal / Terror De eSTaDo 445

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