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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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Fui muito torturado. Bateram-me muito nos rins com cassetete de borracha, <strong>que</strong> não<br />

deixa marcas visíveis. De lá, enviaram-me ao CENIMAR, Centro de Informações da<br />

Marinha, onde permaneci até dezembro de 19<strong>68</strong>.<br />

Em maio de 1969, no Rio de Janeiro, participei da ação <strong>que</strong> libertou nove companheiros<br />

da Penitenciária Lemos de Brito, cuja situação era assustadora. Três meses mais tarde, fui<br />

novamente preso durante um tiroteio com agentes da Polícia Militar e Civil. Fui levado<br />

para o 1º Batalhão da Polícia do Exército, onde, verdadeiramente, começou minha via<br />

crucis.<br />

Tiraram minhas roupas, deixaram-me completamente nu, bateram-me muito com<br />

cassetete, colocaram-me no pau-de-arara, aplicaram-me cho<strong>que</strong>s elétricos ininterruptos<br />

nos ouvidos, nos dedos das mãos e pés, nas partes genitais, na língua. Apagaram cigarros<br />

na minha pele, simularam afogamentos por imersão, entre outras barbaridades.<br />

Depois de muitas seções deste tipo de tortura, fuzileiros navais colocaram-me, nu e<br />

amarrado, em um carro. Após uma viagem de cerca de seis horas, empurraram-me, ainda<br />

nu e amarrado, para dentro de um helicóptero. Sobrevoaram uma região selvagem,<br />

beirando o litoral, a uma altura de quinhentos metros. <strong>Queria</strong>m <strong>que</strong> eu mostrasse os<br />

lugares onde, possivelmente, alguns companheiros estariam escondidos.<br />

Como eu me mantinha calado, amarraram-me a um cinto de segurança e me empurraram<br />

para fora do helicóptero, no ar, por cima do mar, várias vezes. Acho <strong>que</strong> esta foi a pior<br />

situação <strong>que</strong> passei na vida. Pensei <strong>que</strong> tinha chegado meu fim, quando via a água do<br />

mar e eu, no ar, pendurado, preso somente pelo cinto <strong>que</strong> eles poderiam soltar a qual<strong>que</strong>r<br />

momento.<br />

Em seguida, levaram-me de volta à Polícia do Exército onde recomeçaram outras sessões<br />

de tortura como cho<strong>que</strong>s elétricos, fuzilamentos simulados, até setembro de 1969. O<br />

companheiro Roberto Cietto não resistiu às intensas sessões de tortura a <strong>que</strong> foi<br />

submetido e morreu ao meu lado no dia 4 de setembro. Quem comandava a tortura no<br />

quartel da Polícia do Exército, na Rua Barão de Mesquita, era o major Mayer Fontenelli,<br />

o chefe do setor de informações do DOI-CODI.<br />

Estive preso também no quartel da Vila Militar e na Ilha das Flores.<br />

No dia seguinte à minha chegada no Chile, em janeiro de 1971, no grupo dos 70 expresos<br />

políticos trocados pelo embaixador suíço, sentia-me com mais decisão, mais<br />

experiência e mais lucidez ideológica, conforme declarei em uma entrevista.<br />

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