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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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hierarquia, da disciplina, da submissão eram enfatizados, e onde o medo às autoridades<br />

dominava a todos, medo <strong>que</strong> abrangia desde o tratamento de <strong>que</strong>stões mais amplas até<br />

problemas triviais do cotidiano.<br />

Duas categorias passaram a ser construídas e muito disseminadas na<strong>que</strong>les anos 70, no<br />

Brasil: a do subversivo ou terrorista e a do drogado, ligadas à juventude da época. A<br />

primeira era apresentada com conotações de grande periculosidade e violência, por<strong>que</strong><br />

se revelava como uma ameaça política à ordem vigente; deveria ser identificada,<br />

denunciada, controlada e, se necessário, exterminada. Tal categoria vinha acompanhada<br />

de outros adjetivos como: criminoso, ateu, traidor e prostituta para as mulheres, pois<br />

carregava fortes implicações morais. O subversivo ou terrorista não atuava somente<br />

contra o regime político, mas contra a religião, a família, a pátria, a moral, a civilização,<br />

tornando-se, assim, um anti-social. Estava contaminado por “ideologias exóticas”, por<br />

mandatários de fora. No drogado, o aspecto de doença já estava dado, pois era um ser<br />

moralmente nocivo, com hábitos e costumes desviantes. Na época, as drogas foram<br />

associadas a um plano externo para minar a juventude, tornando-a presa fácil das<br />

“ideologias subversivas”. Então, juntavam-se drogado e subversivo, o <strong>que</strong> se tornava<br />

perigosíssimo.<br />

Essa juventude <strong>que</strong> ia para “o caminho da subversão e do terrorismo”, onde alguns<br />

pegaram em armas para lutar contra o regime, advinha, em sua grande maioria, das<br />

camadas médias urbanas, da pe<strong>que</strong>na burguesia, da intelectualidade. Por <strong>que</strong> se tornavam<br />

“terroristas”, negando suas origens de classe? Esta era uma <strong>que</strong>stão <strong>que</strong> alguns militares<br />

colocavam, em especial, após o Congresso de Ibiúna, onde quase 90% dos jovens presos<br />

advinham da<strong>que</strong>les segmentos. As causas não poderiam estar vinculadas à “crise da<br />

família moderna”? Não seriam esses “terroristas” jovens desajustados emocionalmente,<br />

originários de famílias desestruturadas?<br />

Para provar essas hipóteses – há muito anunciadas pela mídia acerca dos jovens “inocentes<br />

úteis” –, em 1970, foi realizada uma pesquisa entre presos políticos, no Rio de Janeiro,<br />

com o apoio de psicólogos contratados para tal fim e <strong>que</strong> ficou conhecida como “perfil<br />

psicológico do terrorista brasileiro”. Por meio de anamneses, testes objetivos de nível<br />

mental e de interesses e testes projetivos de personalidade como o Rorschach e o<br />

Rosenzweig, levantou-se a situação familiar e psicológica desses presos, suas militâncias,<br />

o <strong>que</strong> pensavam fazer ao sair da prisão e várias outras <strong>que</strong>stões.<br />

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