06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Cordélia foi proibida concomitantemente com uma peça do Plínio Marcos e outra do<br />

Nelson Rodrigues. Eu consegui uma audiência com o então ministro da justiça, Gama e<br />

Silva. Acho <strong>que</strong> era esse. Ele olhou para o Plínio <strong>que</strong>, encarando-o, cuspiu no tapete do<br />

homem. O diplomata <strong>que</strong> estava conosco disse, muito sem graça:<br />

- Ele é o homem zangado do nosso teatro. - O ministro acabou liberando as peças e<br />

falou:<br />

- Ah, quando estou cansado vou ver filmes brasileiros. Durmo, como aconteceu no Cara<br />

a Cara, do Bressane. Quando acordo, proíbo.<br />

De outra feita, um coronel <strong>que</strong> me interrogou no primeiro batalhão da PE, na Rua Barão<br />

de Mesquita, <strong>que</strong>ria saber onde estava o ouro de Moscou...<br />

Fui presa várias vezes e, por fim, fui se<strong>que</strong>strada em São Paulo e levada para o Rio. Para<br />

o exército. Só reconheci <strong>que</strong> era o Rio por<strong>que</strong> eu vi o Maracanã. Fui interrogada por um<br />

coronel do então Ministério da Guerra. Ele <strong>que</strong>ria saber <strong>que</strong>m era de es<strong>que</strong>rda na classe<br />

artística. Eu o fixava e dizia <strong>que</strong> não sabia, pois nós não pedíamos atestado de ideias<br />

políticas. Fui interrogada durante 48 horas. O telefone não parava. Chegou uma hora em<br />

<strong>que</strong> o coronel disse <strong>que</strong> eu iria voltar para São Paulo. Acompanhou-me até o aeroporto.<br />

Eu não tinha nem bolsa, pois quando fui se<strong>que</strong>strada joguei a bolsa fora.<br />

O <strong>que</strong> motivou meu se<strong>que</strong>stro foi o fato de eu ter descoberto <strong>que</strong> as concessões de todas<br />

as lojas do Galeão haviam sido negociadas com uma firma americana, Marin Company,<br />

se não me falha a memória. Só não negociaram a pista, é claro. Desde então, não tive<br />

mais descanso - perseguições, invasão, prisão, conhecia muitos amigos <strong>que</strong> se foram e<br />

outros <strong>que</strong> foram torturados. Isso me dava forças para continuar na luta.<br />

Tornei-me simpatizante da ALN. Ajudei muitas pessoas <strong>que</strong> <strong>que</strong>riam sair do Brasil. Saí eu<br />

mesma do país depois <strong>que</strong> a Sônia Nercessian foi presa e barbaramente torturada. Foi<br />

uma coisa terrível e ela, com o bom caráter <strong>que</strong> tinha, não delatou ninguém. Perdeu<br />

trinta quilos na prisão.<br />

Eu, então, fui para o exílio. Morei em Paris e era muito famosa lá. Continuei, durante os<br />

anos de exílio, a criticar a ditadura. Depois <strong>que</strong> chamei o Médici de urubu-rei, no<br />

L’Express, em uma entrevista para o Eduardo Balbi, tiraram o meu passaporte. Essa<br />

edição foi retirada das bancas e só leu <strong>que</strong>m a recebeu em casa.<br />

420

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!