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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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16.21 MédiCo na tortura<br />

418<br />

Marcos Arruda<br />

Shibata serviu no quartel da Polícia do Exército de São Paulo, na Rua Tutoia, 36. Lá se<br />

situava a Operação Bandeirantes. No dia 11 de maio de 1970, fui preso e violentamente<br />

torturado na OBAN.<br />

Quando me baixaram do pau-de-arara, depois de várias horas de cho<strong>que</strong>s elétricos e<br />

pancadas, tive convulsões e os torturadores se preocuparam. Chamaram um sargento<br />

médico, <strong>que</strong> me deu uma injeção para dormir. Era Shibata. No dia seguinte, 12 de maio,<br />

este mesmo sargento, nissei, fardado e com o nome coberto por esparadrapo, me<br />

interrogou. Ele disse <strong>que</strong> não sabia nada de mim, só <strong>que</strong>ria saber onde eu morava. Repeti<br />

o <strong>que</strong> havia dito sob tortura e ele disse <strong>que</strong> era mentira. Pela porta passavam torturadores,<br />

olhavam para mim e diziam:<br />

- Vamos te pegar de novo, Zé. E desta vez você não escapa!<br />

Shibata insistia em <strong>que</strong> eu contasse a verdade. Eu já estava preparando o espírito para<br />

voltar para o pau-de-arara, mas ele me deu outra injeção e disse a um enfermeiro <strong>que</strong><br />

me preparasse para ir para o Hospital Militar. Cortaram meu cabelo, fizeram minha barba<br />

e me levaram em ambulância para o Hospital. Shibata estava, portanto, ligado ao sistema<br />

de torturas. Ele esteve ligado sim! A fala dele dava a entender <strong>que</strong> ele justifica a tortura<br />

como “um dos meios <strong>que</strong> você tem de tirar informação”. Para ele, até hoje os lutadores<br />

pela liberdade e a democracia são “subversivos”, <strong>que</strong> ele equaciona com “bandidos”. Há<br />

muitas evidências. Se entrevistassem alguns ex-presos sobreviventes da OBAN, certamente<br />

encontrariam outras testemunhas da presença dele nesse órgão e da vinculação dele com<br />

as torturas.<br />

Os órgãos da mídia democrática deveriam expor não apenas a história destes carrascos<br />

da ditadura militar, mas, também, dar-lhes voz, como fez a revista Caros Amigos com<br />

Shibata, para <strong>que</strong> revelem como pensavam e como pensam hoje e quão nefastos podem<br />

ser quando chegam ao poder do Estado. Entretanto, é indispensável <strong>que</strong> se entrevistem<br />

juristas e advogados comprometidos com a genuína democracia, como João Luiz Pinaud,<br />

Técio Lins e Silva, Modesto da Silveira e, em São Paulo, Fábio Konder Comparato, para<br />

<strong>que</strong> dêem seu testemunho igualmente.

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