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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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subversivo <strong>que</strong> um ‘sub-ser-vivo’”. Aliás, aproveito a frase tão direta, para deixar nestas<br />

breves linhas uma mensagem de resgate da ousadia subversiva de “ousar lutar ousar<br />

vencer”, tão em falta nos dias atuais em <strong>que</strong> tudo parece tão desbotado e pasteurizado.<br />

Foi no BCC, então, <strong>que</strong>, aos poucos, reencontrei-me e recuperei-me das lesões do pau de<br />

arara, telefones (tapas nos ouvidos, ensurdecedores), eletrocho<strong>que</strong>s, afogamentos e<br />

outras torturas. Reagi à depressão por meio da música, entoando canções, em especial,<br />

Asa Branca, do mestre Luis Gonzaga.<br />

Foi neste período <strong>que</strong> recebi um presente totalmente inusitado do meu já falecido<br />

(novembro/2006) para sempre mano Rafael. Um pijama lindíssimo, listrado nas cores azul<br />

marinho, prata e dourado, <strong>que</strong> mais parecia roupa de príncipe de conto de fadas. Quando<br />

vesti a<strong>que</strong>le pijama na ainda prisão, senti-me livre, liberado, com uma sensação de prazer<br />

inusitado, <strong>que</strong> resgatava a sensação lúdica do contraditório e uma imensa confiança no<br />

futuro.<br />

Estávamos afastados, de certa forma, por ele ter quatro anos mais de idade, mas sempre<br />

juntos até 1972, quando ele embarca para Nova York, para seguir sua carreira de cientista.<br />

Quando o mano Rafa faleceu, fui a Petrópolis na casa de minha família para organizar<br />

fotos de nossa infância e adolescência. Encontrei dentro de um álbum, um papel amarelo<br />

com os seguintes dizeres: “Escreve teus infortúnios na areia e teus sucessos na rocha, pois<br />

quando a maré subir, apagará teus maus momentos, e os bons ficarão para sempre”.<br />

Em 1998, em uma viagem dele, relembrou-me: “Mano, lembra <strong>que</strong> em 19<strong>68</strong> achávamos<br />

<strong>que</strong> em 30 anos teríamos chegado ao socialismo?” Na<strong>que</strong>le mesmo ano, na festa dos 50<br />

anos do Colégio de Aplicação da UFRJ, propus um bolo esportivo para definir uma nova<br />

data para, pelo menos, não perder a perspectiva deste sonho tão bem descrito por John<br />

Lennon na letra da canção Imagine.<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - PriSõeS / ViolÊNCia iNSTiTUCioNal / Terror De eSTaDo 417

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