06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

de volta, como <strong>que</strong>m cumprimenta e vai embora. (Não era sua intenção saber o valor<br />

prático das aulas orientais <strong>que</strong> recebera, na<strong>que</strong>la hora e em outras.) Que faz, <strong>que</strong> fez? O<br />

popular lhe responde com um mais vigoroso empurrão. Spinelli volta, como se a parede<br />

do estreito corredor fosse um elástico, <strong>que</strong> lhe desse um exemplo da terceira lei de<br />

Newton. E volta com o impulso da sua pe<strong>que</strong>na massa inercial, somente para dar um<br />

instante breve de resposta ao segundo empurrão. Nisto, e como prova insofismável de<br />

<strong>que</strong> a toda desgraça corresponde outra maior, surge um indivíduo tão alto quanto o<br />

nosso amigo, porém mais volumoso em carnes, vontade de brigar e músculos. Que vinha<br />

a ser o amigo do popular irritado. E lhe diz, a Spinelli:<br />

- Ei, magro, é briga, é?<br />

Spinelli olhou de cima a baixo e da direita para a es<strong>que</strong>rda o homem-guarda-roupa.<br />

Sabemos nós, à distância, <strong>que</strong> os manuais de filosofia ensinam <strong>que</strong> só se deve correr<br />

quando houver possibilidades de espaço e circunstância. Mas o <strong>que</strong> não se encontra em<br />

nenhum manual, nem nos melhores livros, foi a resposta de gênio <strong>que</strong> achou o nosso<br />

amigo, na<strong>que</strong>la hora de angústia, agonia, desespero e aflição. Acreditem e creiam, por<strong>que</strong><br />

em pleno intervalo do jogo final da copa do mundo, o nosso amigo gritou, com os braços<br />

erguidos e levantados:<br />

- Viva o Brasil!<br />

O amigo do popular, espantado com a<strong>que</strong>le golpe baixo, de gênio, reagiu como bom<br />

patriota. Abraçou Spinelli como se abraça um companheiro de torcida.<br />

- Viva! Viva o Brasil!<br />

Com as costas ainda a estalar nos ossos, o nosso amigo voltou ao abrigo de nossa mesa.<br />

E todos assistimos ao final de Brasil e Itália. De frente para a pe<strong>que</strong>na tela, para melhor<br />

integração. E comemoramos, e pulamos, e gritamos gol. Sem remorso e sem dor na<br />

consciência. E saímos de lá abraçados e bêbados rumo ao Zumbi, onde morava Mário<br />

Sapo. Felizes a cantar. Afinal, estávamos todos metidos em nossa face legal. A de patriotas,<br />

no país de calções e chuteiras.<br />

414

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!