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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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- Populismo, caralho. Se o povo está assistindo, nós também vamos assistir? É isso?!<br />

Cortava Spinelli. A vanguarda repete a massa, é isso?<br />

- Sim, Lênin! - voltava Mário. - Sim, Lênin...<br />

Ao <strong>que</strong> o magro Anael, sabedor por intuição e experiência aonde levavam os argumentos<br />

de Mário (libação, álcool, <strong>que</strong> ninguém é de ferro), intervinha, como um votante, por<strong>que</strong><br />

democrático era o processo.<br />

- Eu estou com Mário. O povo é <strong>que</strong>m sabe o rumo. - e adaptava um refrão: - Ruim com<br />

o povo, pior sem ele.<br />

- Sim, mas... - sentia-se encurralado Spineli. - Sim, mas...<br />

Mas antes <strong>que</strong> entrassem em discussão as categorias do conhecimento, o <strong>que</strong> é o povo,<br />

o <strong>que</strong> é a massa, o <strong>que</strong> é a vanguarda, e o tempo histórico, e sua urgência e emergência,<br />

Mário, o mais velho, propunha:<br />

- Vamos discutir isso no Savoy.<br />

O Bar Savoy era uma festa, sempre. Foi para ele <strong>que</strong> Carlos Pena escreveu “são trinta<br />

copos de chope / são trinta homens sentados / trezentos desejos presos / trinta mil<br />

sonhos frustrados”. Foi lá <strong>que</strong> a Jomard Muniz de Brito ocorreu <strong>que</strong> “o Recife é um<br />

chope”. Foi para ele <strong>que</strong> os personagens de Os Corações Futuristas estenderam os olhos<br />

mendigos de cerveja, por<strong>que</strong> ali se podia beber a felicidade em mesinhas de ferro. O<br />

Savoy era uma festa.<br />

Os nossos amigos, os nossos, na<strong>que</strong>las circunstâncias, heróis, sentaram-se a um canto,<br />

um pouco à margem do aglomerado, <strong>que</strong> rodeava um dos televisores no Savoy. Diabo de<br />

copa do mundo, vieram ali para conversar os próximos rumos do movimento e do Brasil.<br />

De costas para a alienação. Acintosamente alienados da alienação. No entanto, Mário,<br />

sempre o mais precavido dentre nós, sentou-se de frente para a televisão. Por<strong>que</strong> ver, o<br />

simples ver, não atrapalha, ou não devia atrapalhar todo e qual<strong>que</strong>r desenvolvimento da<br />

argumentação, da mais reles matéria à metafísica.<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - PriSõeS / ViolÊNCia iNSTiTUCioNal / Terror De eSTaDo 411

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