06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

- Que isso? O <strong>que</strong> está acontecendo?<br />

- O Juarez foi assassinado.<br />

- Quê? Ibra, você ficou louco? Como assassinado? Quem ousaria assassinar o Juarez? Eu<br />

não acredito. Nem insista <strong>que</strong> não acredito. Como é <strong>que</strong> você pode saber? Quem contou<br />

esta barbaridade? Diga, - sacudia seus braços, desesperadamente, tomada, em prantos.<br />

- Diga logo!<br />

- Mirian – pegou minhas mãos com carinho - o Juarez foi a um encontro, não sabemos<br />

ainda como. Cercado pela polícia, ele deu um tiro na cabeça. A Maria do Carmo foi presa.<br />

- Não. Nãoooo é verdade.<br />

- Sim, companheira, é verdade. Acalme-se. Calma, por favor. Sinto muito. Desculpa. Eu<br />

não <strong>que</strong>ria dizer assim. Eu também não <strong>que</strong>ria <strong>que</strong> ele morresse.<br />

Chorei a vida. Chorei pelos sonhos. Chorei o companheiro imprescindível. Chorei o nosso<br />

Juarez.<br />

Desorientada, com as crianças, fui buscar, no mar, respostas para esta perda. Tentar, no<br />

espelho das águas, ver meu país. Encontrar minha gente. Juarez, com certeza, foi uma<br />

manchete a mais nos jornais. Quantos sabiam do seu valor? Quantos tinham consciência<br />

de <strong>que</strong> com ele partia um pedaço grande da nossa esperança? Poucos foram tão<br />

brasileiros. Poucos se dedicaram tanto à conquista da liberdade! Poucos... Muito poucos...<br />

Quantos mais teríamos <strong>que</strong> perder para <strong>que</strong> o Brasil pudesse ter escolas, direito à saúde,<br />

uma vida digna? Quantos “Juarezes” teriam <strong>que</strong> morrer pelo amadurecimento político e<br />

psicológico do nosso povo? Morrer é uma palavra muito forte. É para todo o sempre. É<br />

para nunca mais.<br />

Olhando as ondas, <strong>que</strong> teimosas se espatifavam contra as muretas do Malecón, cruzei<br />

fronteiras, invadi 1962, quando participava de reuniões políticas de um grupo de<br />

estudantes da Estelita Lins. Marx e Engels nossos mestres; Lenin, o líder maior, mas foi em<br />

Stalin <strong>que</strong>, na<strong>que</strong>la época, me descobri.<br />

- Stalin tem o dom de descomplicar o entendimento sobre a luta de classes, - professava<br />

Mauro, nas tardes de discussões calorosas.<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - PriSõeS / ViolÊNCia iNSTiTUCioNal / Terror De eSTaDo 407

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!