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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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16.18 1970 – abril entrinCHeirado<br />

406<br />

Marilia Guimarães, 2007<br />

- Mercenários desembarcam em Baracoa, a mais antiga cidade de Cuba chamada por<br />

Cristóvão Colombo de Cuidad Primata ou Bela Adormecida. Durante a luta, quatro<br />

combatentes revolucionários morrem e dois ficam gravemente feridos - anuncia o<br />

locutor <strong>que</strong> compartilha conosco todas as nossas manhãs.<br />

Desci para o café, preocupada com os ata<strong>que</strong>s em plena euforia da colheita da cana de<br />

açúcar.<br />

- Sem preocupação, Mirian. A gente tira de letra estes mercenários. Por vezes, costumam<br />

sacrificar alguns dos nossos, nunca o povo inteiro. Aprendemos a defender nossa pátria<br />

a golpes de guitarra e canhão.<br />

Aleida argumentava firme. Seus lindos olhos castanhos espanholados reafirmavam a<br />

decisão tomada, há muito, por todos os cubanos: “nossa independência é prioridade um.<br />

O resto, todo o resto <strong>que</strong> nos toca, em segundo lugar”.<br />

Nove dias depois, os mercenários de Baracoa, capturados, eram julgados, condenados e<br />

fuzilados.<br />

Despertei inquieta. A velha e conhecida angústia tomava meu coração. Baracoa me<br />

preocupava! Não era Baracoa! Vinha de longe. O vento trazia notícias. Que havia<br />

acontecido? Marcello e Eduardo, aos poucos, iam-se habituando às comidas, ao<br />

“portunhol”. Os últimos dias de convívio com José Ibrahim, o proleta, haviam sido de<br />

extrema beleza. Do Brasil, chegavam notícias preocupantes. A ditadura fazia novas<br />

prisões, assassinava companheiros impiedosamente. A tarde adentrava na noite<br />

incomodada, o mar parecia <strong>que</strong>rer tragar o universo de um só gole. O mundo me parecia<br />

esvair-se em lágrimas. “Mas por <strong>que</strong>m? Por quê?” Questionava- me.<br />

Ibrahim chegou calado, sério, cabisbaixo.<br />

- Vou logo ao assunto. Sei <strong>que</strong> vai doer.

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