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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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16.17 deMônios loGrados<br />

Inêz Oludé da Silva<br />

Eu cresci ouvindo histórias de Trancoso e isso me influenciou a vida inteira. As de <strong>que</strong> eu<br />

mais gostava eram a<strong>que</strong>las onde o Diabo aparecia, pintava o sete e, na maioria das vezes,<br />

era logrado, como na estória de Costa Leite: A Mulher <strong>que</strong> Enganou o Diabo. Eu só<br />

gostava de anti-hérois como o Fradinho - de Henfil, Macunaíma, Canção de Fogo, meu<br />

Pai e João Grilo.<br />

Sou uma mistura deles todos.<br />

No ano de 1971, eu conheci o Abiasafe, aliás, Abi, Pixote, Menininho. Foi por intermédio<br />

de uma amiga de nome grego, acho <strong>que</strong> era Artemis. Estudávamos na escola Pinto Junior.<br />

Bonito casarão <strong>que</strong> ficava na Rua do Hospício. Uma das esquinas dava na Rua do Sossego<br />

e ficava meio entroncado entre o Colégio Nóbrega, só de rapazes, a Universidade Católica<br />

e a Casa do Estudante de Engenharia. O Pinto Junior era exclusivo para mulheres... E<br />

recebia visita de todo esse mundo em torno dele.<br />

Eu era meio sapeca, digamos <strong>que</strong> meu apelido era Cão do Piutá, só para dar uma pe<strong>que</strong>na<br />

ideia do personagem <strong>que</strong> ora vos fala. Gostava mais de aprontar palhaçadas do <strong>que</strong><br />

estudar e tinha alguma liderança entre as meninas da escola. Já os professores, sérios e<br />

carrancudos, passavam a vida castigando-me e ameaçando entregar-me ao exército, <strong>que</strong><br />

ficava ali do lado. Nunca fizeram nada não, por<strong>que</strong>, no fundo, eu era divertida e simpática.<br />

Sei <strong>que</strong> minhas estripulias chegaram aos ouvidos de Abi. Um dia, ele apareceu lá para me<br />

conhecer. Tinha apenas 17 anos, magrela, era bonitinho e muito inteligente. Bom. Para<br />

encurtar a história, estes atributos me atraíram. Abi trouxe Feu, <strong>que</strong> trouxe Spinelli, <strong>que</strong><br />

trouxe Ura, <strong>que</strong> trouxe Marcão, <strong>que</strong> trouxe dois, <strong>que</strong> trouxeram três, quatro, cinco, um<br />

monte! A ordem pode ser alterada, pois, com tantos anos, a memória, de vez em quando,<br />

falha. Formávamos uma boa “patota” e éramos assíduos leitores do Pasquim e do jornal<br />

Opinião. Acho <strong>que</strong> o Ura até escrevia nele. Escrevia é muito dizer, já <strong>que</strong> o jornal saía, na<br />

maior parte do tempo, com as páginas pretas de censura. Eram meus amigos <strong>que</strong><br />

militavam no movimento estudantil e alguns, em partidos de es<strong>que</strong>rda.<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - PriSõeS / ViolÊNCia iNSTiTUCioNal / Terror De eSTaDo 403

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