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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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nós. Quanto ao outro motivo, eles diziam: “seu filho da puta, você esteve em nossas<br />

mãos, nos enganou e foi solto”. Foram muitas porradas por esse motivo.<br />

Muitos meses depois, passada a dor física das torturas, conversando com meus<br />

companheiros de cela no Presídio Tiradentes, tive a oportunidade de juntar os dois<br />

instantes: o de 18 de julho de 19<strong>68</strong>, quando enganei a polícia política e fui solto e o das<br />

torturas, por tê-los enganado. Na<strong>que</strong>la ocasião, prevaleceu a sensação de vitória vivida<br />

após a escapada de julho, do OPERÁRIO, ESTUDANTE, COMUNISTA.<br />

16.15 déCada de 70 - ConFiança<br />

398<br />

Francisco Manuel Leite Pinheiro<br />

Casos como esse, temos todos para contar. Dos muitos <strong>que</strong> vivenciei, um me tocou muito,<br />

deixando-me num dilema: dar a mão para <strong>que</strong>m me pediu ajuda, ou negá-la? Em<br />

qual<strong>que</strong>r dos casos o resultado seria muito ruim. Escolhi o <strong>que</strong> foi, talvez, o pior para<br />

mim.<br />

Isso já foi no início da década de setenta, quando eu estava dirigindo uma empresa em<br />

Vitória, ES. Lá, trabalhavam duas irmãs muito educadas e simpáticas, <strong>que</strong> chamarei aqui<br />

de Lúcia e Lícia, para <strong>que</strong> não sejam identificadas. Lícia, a mais nova, era particularmente<br />

bonita e delicada, parecia uma figura de biscuí.<br />

Um dia, Lúcia me procurou, muito aflita, dizendo <strong>que</strong> sua irmã estava presa no quartel<br />

de Vila Velha e contou o <strong>que</strong> ocorrera: o namorado de Lícia estava sendo procurado,<br />

como “terrorista”, e ninguém sabia do paradeiro dele. Então, já há alguns dias, o “pessoal<br />

da DOPS” havia ido à sua casa e levado Lícia. Segundo eles, nada havia contra Lícia; mas<br />

<strong>que</strong>riam <strong>que</strong> ela dissesse onde ele se encontrava; bastava contar e logo seria libertada; a<br />

prisão era também um artifício para ver se o namorado de Lícia aparecia.<br />

Só <strong>que</strong> Lúcia conseguira visitar Lícia no quartel e a encontrara extremamente abatida,<br />

embora sem ferimentos aparentes. Ficou sabendo <strong>que</strong> era interrogada diversas vezes por<br />

dia e de madrugada. Os interrogatórios da madrugada – <strong>que</strong> duravam até o amanhecer<br />

– eram precedidos de um banho, para acordá-la: punham-na numa área cimentada e

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