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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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esperava. Aproximei-me e quando estendi a mão para cumprimentá-lo, três policiais, <strong>que</strong><br />

estavam disfarçados como pessoas comuns <strong>que</strong> também esperavam o ônibus, me<br />

agarraram. A pessoa com <strong>que</strong>m ia me encontrar tinha sido presa e, após as primeiras<br />

porradas, falou aonde ia me encontrar.<br />

Os policiais imediatamente quiseram saber onde eu morava e <strong>que</strong> os levasse à minha<br />

casa. Pensavam <strong>que</strong> poderia ser um “aparelho” onde poderiam encontrar documentos e<br />

informações sobre a VPR. Como estava seguro de <strong>que</strong> em minha casa não tinha nada de<br />

anormal, levei-os até lá. Com isso também estava ganhando tempo para <strong>que</strong> os<br />

companheiros da organização percebessem <strong>que</strong> eu estava preso. Algumas horas mais<br />

tarde, eu teria uma reunião com alguns deles. Na<strong>que</strong>las circunstâncias, com vários<br />

companheiros sendo presos, a ausência de um companheiro a uma reunião fazia acender<br />

o sinal vermelho <strong>que</strong> acionava todas as precauções.<br />

Ao chegar em minha casa com os policiais, minha companheira ficou muito assustada e<br />

preocupada. Entretanto, no trajeto para casa com os policiais (como era uma operação<br />

“disfarçada”, os policiais estavam com um carro civil) procurei convencê-los de <strong>que</strong> eu<br />

era recém casado e <strong>que</strong> minha esposa não tinha conhecimento da minha militância<br />

política.<br />

Entrei em casa e, imediatamente abracei a minha esposa e, chorando, pedia perdão por<br />

tê-la enganado, por ter mentido a ela quando dizia <strong>que</strong> tinha abandonado a militância<br />

política. Que, na verdade, eu mantinha relações com pessoas da VPR e por isso estava<br />

sendo preso. Falava isso no ouvido dela, porém, em voz alta para <strong>que</strong> os policiais ouvissem.<br />

Revistaram e não encontraram nada na casa. Em seguida, interrogaram minha<br />

companheira, <strong>que</strong> confirmou nossa história, dizendo não saber de nada. Os policiais<br />

acreditaram no nosso drama e a deixaram em casa.<br />

Levaram-me para o carro e seguimos em direção ao DOPS. Já no caminho, mesmo em um<br />

carro civil, começaram as perguntas sobre quais eram as pessoas da VPR <strong>que</strong> eu conhecia,<br />

onde moravam, etc. Também as porradas já começaram no carro.<br />

No DOPS, a coisa se complicou muito. Aí o pau comeu feio. Os policiais expressavam um<br />

ódio muito profundo, dizendo <strong>que</strong> tinham dois motivos imediatos para me torturar:<br />

inicialmente, para obter informações <strong>que</strong> os levassem a prender outros companheiros da<br />

VPR, <strong>que</strong> era a primeira coisa <strong>que</strong> os torturadores <strong>que</strong>riam saber ao prenderem um de<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - PriSõeS / ViolÊNCia iNSTiTUCioNal / Terror De eSTaDo 397

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