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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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Ao entrarmos em sua sala, o Delegado Chefe do DOPS leu uma lista de nomes: “fulano,<br />

sicrano, beltrano, Ro<strong>que</strong> Alves de Souza, etc., etc”. e perguntou: “Algum de vocês está<br />

nesta lista? Não, Não e Não”, nós três respondemos. Então o Velhinho começou a<br />

perguntar: “Qual é o seu nome? Fulano. Qual é o seu nome?” dirigindo-se a mim. “Ro<strong>que</strong><br />

Aparecido da...” Não consegui terminar, tendo sido interrompido. “Então você é o Ro<strong>que</strong>,<br />

você esta fodido, vai passar uns bons tempos aqui com a gente. O Barreto já está aqui<br />

preso, o Ibrahim a gente prende amanhã. Todos os comunistas, subversivos e agitadores<br />

de Osasco vão ficar aqui por muito tempo”. Então, consegui interrompê-lo e falei,<br />

tremendo: “Dr. Eu não entendo o <strong>que</strong> o Sr. está falando. Eu não sei por <strong>que</strong> estou aqui.<br />

Fui preso na rua sem saber por quê”. O velhinho reage: “Como? Qual é o seu nome?”.<br />

Respondi: “Ro<strong>que</strong> Aparecido da Silva”. O velhinho olha na lista <strong>que</strong> tem na mão e pede a<br />

minha Carteira de Identidade. Entreguei. Ele olha, compara e diz: “Porra mole<strong>que</strong>, você<br />

tem sorte, escapou por pouco. Por<strong>que</strong> o Ro<strong>que</strong> Alves de Souza está aqui e vai ficar muito<br />

tempo. Com a prisão de todos os comunistas de Osasco, vocês vão ficar tranquilos, livres<br />

dos agitadores. Agora vocês vão embora. Amanhã voltem para o trabalho <strong>que</strong> vamos<br />

garantir a tranquilidade para vocês”. Ainda não sei como as minhas pernas conseguiram<br />

dar os passos de saída dali.<br />

Saímos no Largo General Osório, viramos à direita como <strong>que</strong>m ia tomar o trem na Estação<br />

Julio Prestes para Osasco. Antes de entrar na Estação, tomei o primeiro táxi e pedi para o<br />

motorista me levar para a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de<br />

São Paulo, na Rua Maria Antonia, <strong>que</strong> estava ocupada pelos estudantes e era o “território<br />

livre estudantil”. Após descer do táxi e entrar no “território livre”, encontrei o Companheiro<br />

José Dirceu, então Presidente da União Estadual dos Estudantes de São Paulo <strong>que</strong>, ao me<br />

ver, exclama meio assustado, sem entender nada: “Mas, Ro<strong>que</strong>, você não está preso?” Ao<br />

<strong>que</strong> respondi: “Pô... Zé, estou aqui, consegui escapar dessa. Por favor, me esconde e,<br />

quando o Espinosa chegar, coloca ele em contato comigo”. Como era o mês de julho e<br />

fazia um pouco de frio, o Zé Dirceu estava com a sua inseparável capa preta, sob a qual<br />

me envolveu e me levou para uma enfermaria improvisada em uma sala de aula. As<br />

enfermeiras trouxeram alguns remédios <strong>que</strong> tomei sem perguntar o <strong>que</strong> eram ou para<br />

<strong>que</strong> serviam. Sei <strong>que</strong> ajudaram a me acalmar e relaxar no fim de um dia de tantas<br />

emoções, apreensões e tensões.<br />

Mais tarde, enquanto esperava chegar algo para comer, após um dia em absoluto jejum,<br />

contei para o Zé Dirceu todas as aventuras do dia <strong>que</strong> começou com a minha prisão e<br />

terminou com a liberdade. Rimos muito. Após ter passado a tensão, contar as aventuras<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - PriSõeS / ViolÊNCia iNSTiTUCioNal / Terror De eSTaDo 395

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