06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

operários <strong>que</strong> tinham sido detidos conforme iam chegando para a reunião. Em poucos<br />

minutos, chegaram também os <strong>que</strong> estavam na reunião comigo.<br />

Fomos todos levados em “camburão” para a Delegacia de Polícia de Osasco, onde já tinha<br />

uma sala enorme cheia de operários, inclusive os <strong>que</strong> tinham sido presos durante a noite<br />

no Sindicato e tinham passado a noite em pé, acordados, sem saber muito bem o <strong>que</strong> iria<br />

acontecer com eles. Ao entrar na sala, avistei o Padre Pierre Vautier, um padre operário<br />

francês. Fui até ele e perguntei o <strong>que</strong> estava acontecendo ali. Ele me informou,<br />

rapidamente, <strong>que</strong> estavam anotando os nomes das pessoas consideradas líderes do<br />

movimento, <strong>que</strong> todos seríamos levados para o DOPS em São Paulo onde seríamos<br />

fichados. Acrescentou <strong>que</strong> os “cabeças”, <strong>que</strong> tivessem os nomes na lista, provavelmente,<br />

não passariam na “peneira” e permaneceriam lá.<br />

Em seguida, ouvi o policial <strong>que</strong> estava anotando os nomes gritar: O ESTUDANTE,<br />

OPERÁRIO, COMUNISTA. Percebi imediatamente <strong>que</strong> ele se referia a mim e comecei a<br />

pensar em como me sair de mais uma. Em seguida o cara gritou: “É você mesmo, Ro<strong>que</strong>”.<br />

Então, dirigi-me à mesa. O cara, olhando para mim, perguntou: “Qual é o seu nome<br />

completo?” Aí tive a<strong>que</strong>la fração de segundo <strong>que</strong> decide o futuro da gente. Tirei do bolso<br />

a minha carteira de identidade e, segurando-a na mão, falei: “Ro<strong>que</strong> Alves de Souza”.<br />

Como demonstrei segurança, com a carteira de identidade na mão, o policial não pediu<br />

pra ver e datilografou o nome <strong>que</strong> falei.<br />

Pouco tempo depois, fomos levados para o DOPS, em São Paulo, onde cada um foi<br />

fichado. Foram anotados todos os dados dos documentos e, inclusive, tomadas as<br />

impressões digitais. Assim <strong>que</strong> todos foram fichados, já no começo da noite, começaram<br />

a chamar de três em três e eles não voltavam. Percebi <strong>que</strong> a “peneira” estava começando<br />

a funcionar. Então chamei dois companheiros de minha confiança, conversei rapidamente<br />

com eles e nos colocamos na frente, junto ao portão de saída. Logo, veio um policial e<br />

falou: “Vocês três”.<br />

Fomos levados para a sala do Dr. Vanderico, <strong>que</strong> era o Delegado Chefe do DOPS. Ao entrar<br />

na sala, vi <strong>que</strong> o Dr. Vanderico era um velhinho completamente careca, <strong>que</strong> tinha apenas<br />

uns três fios de cabelo, bem em cima da cabeça. Notei <strong>que</strong> o velhinho ficava o tempo<br />

todo passando a mão da es<strong>que</strong>rda para a direita sobre a cabeça, como se estivesse<br />

penteando o cabelo.<br />

394

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!